segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Entrevista com
sor Maria Imaculada e sor Inês da Cruz

No próximo dia 14 de Novembro, pelas 11h na Igreja do Mosteiro da Imaculada Conceição, da Ordem da Imaculada Conceição, duas jovem fazem a sua Consagração definitiva a Deus pelos Votos Solenes. Estivemos à conversa com ambas para que nos explicassem a sua história e a passagem abrasadora de Deus pelas suas vidas ao ponto de fazerem uma opção tão radical, consagrando-Lhe definitivamente as suas vidas.
Soror Maria Imaculada (nome de Baptismo: Maria Herves Jimenez); Nasceu Sevilha (Espanha) a 12 de Agosto de 1985; Entrou no Mosteiro: 28/o8/2003; Antes de entrar no Mosteiro residia em Évora.
Soror Maria Inês da Cruz (nome de Baptismo: Maria Inês Simas Simões); Nasceu em Évora a 7 de Março de 1979; Entrou no Mosteiro: 6 /08/2003; Antes de entrar no Mosteiro residia em Évora.
1 - Soror Maria Imaculada, no próximo dia 14 de Novembro, sabemos que vai fazer a sua profissão solene, na Ordem da Imaculada Conceição, juntamente com soror Inês da Cruz?
Quer dizer-nos o que significa professar solenemente?

Soror Maria: Significa ser consagrada por Deus através dos conselhos evangélicos de: Sem Próprio (pobreza), Castidade, Obediência e também com o voto de Clausura que é uma característica particular da nossa Ordem fundada por Santa Beatriz, a Ordem da Imaculada Conceição (O.I.C.). A partir deste momento deixo de me pertencer a mim para pertencer inteiramente a Deus e à Igreja, configurando-me plenamente - com Maria Imaculada - a Cristo no seu mistério Pascal.
2 - Chegar à profissão solene, implica uma caminhada e uma história muito íntima com Deus que seduz. Gostávamos que a irmã nos contasse, como se deixou seduzir. Quais foram os sinais de que Deus se serviu para a chamar?
Soror Maria: Para entrar no Mosteiro, os sinais de que Deus se serviu foram o seio da minha família, a comunidade Neocatecumenal a que pertencia, os encontros Mundiais da Juventude, mas, principalmente, o dia-a-dia, quando no meu processo normal de uma jovem experimentava o que era dizer não a Deus e ver que apesar disso Ele me acolhia novamente, erguia-me da minha morte e dava-me de novo a Sua paz. Desde que entrei no Mosteiro, o que mais me fez ser seduzida por Deus, foi o seu amor “delicado” por mim. “Delicado”, porque cuidou e cuida que toda a minha existência se transforme, se renove com a sua força VIVA e Ressuscitadora, através das mediações que foi pondo no meu caminho, principalmente a comunidade deste Mosteiro.
3 - Porquê a opção por uma Ordem contemplativa e não por uma congregação de vida activa, onde tanto bem poderia fazer à Igreja e à sociedade servindo generosamente os irmãos?
Soror Inês da Cruz: Esta opção foi de Deus autor de toda a vocação. A vida contemplativa sempre me seduziu, não sei se por ter a Cartuxa tão perto (na minha cidade natal) e me fazia tanto mistério e ao mesmo tempo me fascinava a vida oculta destes homens, se pela intercessão pela humanidade, o que é certo é que me seduzia. É verdade que a vida activa faz muito bem à Igreja e à sociedade, mas desde que se tenha vocação. Disto se trata porque se estamos apoiados apenas na nossa vontade e não na Vontade de Deus a nosso respeito não fazemos bem a nós, nem a ninguém. Foi aqui na vida contemplativa que pude fazer este processo vocacional e perceber o que Deus queria de mim. Depois de 6 anos de discernimento percebo que este é o meu lugar, onde poderei ajudar a Igreja e a sociedade através da vida oculta e contemplativa ao jeito da Virgem Imaculada.
4 - Qual foi a reacção da sua família quando a irmã disse que pretendia fazer-se monja num Mosteiro de clausura?
Soror Inês da Cruz: Penso que no início ficaram surpreendidos por ter sido tudo muito de repente, mas sempre me demonstraram o seu apoio, incentivo, respeito e alegria.
5 - Porquê a Ordem da Imaculada Conceição, tão pouco conhecida em Portugal (só com dois Mosteiros - Campo Maior e Viseu) quando sabemos que fez experiência vocacional num Mosteiro de outra Ordem Monástica?
Soror Inês da Cruz: Vinha fazer uma experiência de 15 dias pois tinha inquietação vocacional. Vinha ver…e quando aqui cheguei o Senhor foi tão claro que já não pude sair. À medida que ia lendo as Constituições desta Ordem, observando e experimentando a vida das irmãs, via, claramente, que este era o meu lugar e que Santa Beatriz já me esperava.
6 - À partida poderá parecer que as Ordens Monásticas são todas iguais, mais coisa menos coisa. Diga-me irmã, qual é o específico da Ordem da Imaculada Conceição, fundada por Santa Beatriz da Silva? De que forma as monjas Concepcionistas vivem a radicalidade evangélica e procuram a Deus?
Soror Inês da Cruz: Boa pergunta. Penso que pode haver mais que uma resposta. Entendo a Ordem da Imaculada Conceição como uma novidade de vida que desafia toda a humanidade a voltar-se para o seu Criador, como o fez Maria. Digo novidade de vida porque nos faz estar constantemente em novidade de Espírito. Deus é Deus e faz o que quer, assim fez Maria Imaculada. Assim o pecado já não tem a última palavra, não define a humanidade. As monjas Concepcionistas, à imitação de Maria, concebendo o projecto de Deus nas suas vidas só podem exclamar: Faça-se.
7 - Reparei que os vossos nomes de baptismo não correspondem ao de religiosas. Porquê a mudança e qual o significado dos nomes Maria Inês da Cruz e Maria Imaculada que, as irmãs escolheram?
Soror Inês da Cruz: A “Cruz”. Esta palavra foi ganhando consistência na minha vida através do Caminho Neo-catecumenal onde aprendi que a cruz pode ser gloriosa. A cruz tem um lado que se for amado e descoberto dá sentido a todo o sofrimento, que inevitavelmente a vida acarreta. A Cruz é verdadeira, não engana mas nunca é o fim. Foi por descobrir isto em vários acontecimentos da minha vida que achei por bem acrescentá-la ao meu nome de baptismo.
Soror Maria: Foi um nome que me sugeriram e que eu gostei, porque me lembra o mistério insondável que a Virgem Maria viveu e que eu estou chamada a viver. O nome que levo é a mensagem que deve transmitir a minha vida: deixar que Deus haja para ser “Cheia de Graça” como a Virgem Imaculada e assim gerar Cristo em benefício de todos os homens.
8 - Como se desenrola o quotidiano numa comunidade monástica de vida contemplativa?
Soror Maria: É muito simples e humilde. Começa juntando-nos a toda a Igreja com a oração litúrgica de Laudes. Preparamo-nos através da meditação para o grande momento do dia, a Eucaristia. Partindo desta fonte de VIDA, dividimos o dia entre a oração litúrgica (Oficio de Leitura, Hora intermédia, Hora de Vésperas), o trabalho (bordamos paramentos, confeccionamos hóstias e ocupamo-nos dos trabalhos domésticos necessários para o bom andamento da vida comunitária - de resto, como em qualquer casa e família), a Lectio Divina e a formação permanente (estudo), terminando o dia com a oração de Completas. A oração litúrgica e o trabalho são sempre feitos comunitariamente, pois a vida comunitária é também um dos grandes elementos constitutivos e característicos da nossa Ordem. Devo ainda acrescentar que todo o nosso quotidiano é acompanhado de um profundo silêncio orante, pois: "O Senhor seduziu-nos e conduziu-nos ao deserto, para nos falar ao coração" (cf. Os 2, 16), e o silêncio facilita-nos e permite-nos a escuta de Deus que fala no mais íntimo dos nossos corações.
9 - O que é que mais atrai a irmã na sua fundadora: Santa Beatriz da Silva?
Soror Maria: O seu silêncio e a aceitação serena da Vontade de Deus sobre ela durante os 30 anos em que esteve no Mosteiro de São Domingos “O Real” à espera do momento oportuno para fundar a Ordem, como também no momento da sua morte, que foi justamente no princípio da fundação da Ordem, que Santa Beatriz tanto ansiou. Demonstrando assim, que o único interesse dela era realizar o projecto que Deus lhe tinha pedido. Santa Beatriz, tal como a Virgem Imaculada, soube manter o seu “faça-se” em todos os momentos da sua vida, sendo assim uma fiel discípula de Maria Imaculada.
10 - Quando a irmã se prepara para se consagrar a Deus, numa Ordem de vida contemplativa, que lhe dita o Espírito Santo ao coração para dizer aos nossos leitores, em particular aos mais jovens?
Soror Maria: Gostaria de lhes dizer imensas coisas, mas prefiro remeter-me a uma parte da homilia de “entronização” do papa Bento XVI em Abril de 2005, pois ela reflecte muito bem o que experimento e desejo, especialmente, para os jovens de hoje.
“Unicamente onde se vê a Deus, começa realmente a Vida. Só quando encontramos em Cristo ao Deus VIVO, conhecemos o que é a Vida. Não somos produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um de nós é necessário. Nada é mais BELO do que ter sido alcançados, surpreendidos, pelo Evangelho, por Cristo. Nada há mais BELO que conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade com Ele.”

Sem comentários: