quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

A comunidade monástica Concepcionista
de Campo Maior
deseja-vos:
«Santo e Feliz Natal»
e implora para todos, junto do Presépio,
«bênçãos abundantes e generosas
do Verbo feito carne
que habita entre nós»
.

São Francisco de Assis
e o Presépio

A suprema aspiração de Francisco, o seu mais vivo desejo e mais elevado propósito era observar em tudo e sempre o Santo Evangelho e seguir a doutrina e os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo com suma aplicação da mente e fervor do coração. Reevocava as suas divinas palavras em meditação assídua e jamais deixava de ter presentes, em aprofundada contemplação, os passos da sua vida. Tinha tão vivas na memória a humildade da Incarnação e a caridade da Paixão, que lhe era difícil pensar noutra coisa.
Mui digno de piedosa e perene memória foi o que ele fez três anos antes da sua gloriosa morte, perto de Greccio, no dia da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Vivia nessa comarca um homem, de nome João, de boa fama e melhor teor de vida, a quem o bem-aventurado Pai queria com singular afeição, pois sendo ele de nobre e honrada linhagem, desprezava a prosápia do sangue e aspirava unicamente à nobreza do espírito. Uns quinze dias antes do Natal, Francisco mandou-o chamar, como aliás amiúde fazia, e disse-lhe: «Se queres que celebremos em Greccio o próximo Natal do Senhor, vai imediatamente e começa já a prepará-lo como vou dizer. É meu desejo celebrar a memória do Menino que nasceu em Belém de modo a poder contemplar com os meus próprios olhos o desconforto que então padeceu e o modo como foi reclinado no feno da manjedoura, entre o boi e o jumento». Ao ouvir isto o fiel e bondoso amigo, dali partiu apressadamente a fim de preparar no lugar designado tudo o que o Santo acabava de pedir.
E o dia chegou, festivo, jubiloso. Foram convocados irmãos dos vários conventos em redor. Homens e mulheres da região, coração em festa, prepararam, como puderam, círios e archotes para iluminarem aquela noite que viu aparecer no céu, rutilante, a Estrela que havia de iluminar todas as noites e todos os tempos. Por fim, chega Francisco. Vê que tudo está a postos e fica radiante. Lá estava a manjedoura com o feno e, junto dela, o boi e o jumento. Ali receberia honras a simplicidade, ali seria a vitória da pobreza, ali se aprenderia a lição melhor da humildade. Greccio seria a nova Belém.
A noite resplandecia como o dia, noite de encanto para homens e animais. Vem chegando gente. A renovação do mistério dá a todos motivos novos para rejubilarem. Erguem-se vozes na floresta e as rochas alcantiladas repercutem os hinos festivos. Os irmãos entoam os louvores do Senhor, e entre cânticos de júbilo fremente decorre toda a noite. O santo de Deus está de pé diante do presépio, desfeito em suspiros, trespassado de piedade, submerso em gozo inefável. Por fim, é celebrado o rito solene da Eucaristia sobre a manjedoura, e o sacerdote que a celebra sente uma consolação jamais experimentada.
Francisco reveste-se com os paramentos diaconais, pois era diácono e, com voz sonora, canta o santo Evangelho. A sua voz potente e doce, límpida e bem timbrada, convida os presentes às mais altas alegrias. Pregando ao povo, tem palavras doces como o mel para evocar o nascimento do Rei pobre e a pequena cidade de Belém.
Por vezes, ao mencionar a Jesus Cristo, abrasado de amor, chama-lhe o «menino de Belém», e, ao dizer «Belém», era como se imitasse o balir duma ovelha e deixasse extravasar da boca toda a maviosidade da voz e toda a ternura do coração. Quando lhe chamava «menino de Belém» ou «Jesus», passava a língua pelos lábios, como para saborear e reter a doçura de tão abençoados nomes.
Entre as graças prodigalizadas pelo Senhor nesse lugar, conta-se a visão admirável com que foi favorecido certo homem de grande virtude. Pareceu-lhe ver, reclinado no presépio, um menino sem vida. Mas tanto que dele se abeirou o Santo, logo despertou, suavemente arrancado ao sono profundo. De resto, não deixava esta visão de ter um sentido real, já que, pelos méritos do Santo, o Menino Jesus ressuscitou no coração de muitos que o tinham esquecido e a sua imagem ficou indelevelmente impressa em suas memórias.
Terminada a solene vigília, todos voltaram para suas casas cheios de inefável alegria.
Tomás de Celano - Vida Primeira (1 C 84-86) - texto da época

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Mensagem de Natal
do Arcebispo de Évora

“Natal da Moderação,
da Justiça e da Piedade”

Não há outra quadra festiva que exerça tanto fascínio na mente das crianças, dos jovens e dos adultos de todas as idades como o Natal. Mas nem sempre pelas melhores razões.
É que à volta do Natal entrecruzam-se múltiplas motivações de carácter económico e comercial, cultural e artístico, religioso e social. Por isso, ele começa a ser anunciado e preparado com tanta antecedência pelos meios de comunicação social, que incentivam, persistentemente, ao consumismo, com recurso às mais sofisticadas técnicas publicitárias, criadas para adormecer as consciências e mover as vontades na direcção desejada.
A sede do consumismo chega a ser avassaladora. E, quando está aliada com ideologias agnósticas e laicas, os seus efeitos tornam-se deletérios em relação ao Natal que, sendo uma festa cristã, corre o risco de se paganizar, deslizando apenas para uma festa de família ou para a época das compras e dos presentes.
Os cristãos precisam de estar atentos a estas mentalidades, que se vão arraigando no espírito das novas gerações. Sirva de exemplo o caso daquele pai que, depois de se ter esforçado por fazer compreender aos seus filhos, ainda crianças e adolescentes, o sentido cristão do Natal, ouviu da boca de uma das suas filhas: sim, meu pai, mas o melhor do Natal são os presentes.
A mentalidade consumista baseia-se no princípio da abundância material, promove o egoísmo e gera desinteresse pelos mais carenciados da sociedade, em oposição ao sentido genuíno do Natal.
Pois, o nascimento de Jesus fala-nos de ternura, de partilha, de amor, de humildade e de salvação da humanidade decaída no pecado. Como podemos ler na carta de S. Paulo a Tito, seu estimado discípulo, com o nascimento de Jesus em Belém, manifestou-se a graça de Deus, que nos ensina a viver com moderação, justiça e piedade, no mundo actual (2,11).
A graça de Deus manifestou-se como Palavra encarnada em Jesus Cristo. Adquiriu um rosto. Pode ser escutada por ouvidos humanos e pode ser tocada por mãos suplicantes.
Manifestou-se como luz intensa que rasga as trevas do pecado e do mal para iluminar os caminhos da humanidade, pondo a descoberto os erros e os perigos que espreitam na berma da estrada. A Palavra de intensa luz, que encarnou no seio de Maria e se manifestou em Belém, ensina-nos a viver com moderação, com justiça e com piedade.
É por isso que, da humildade do presépio onde nasceu, Jesus continua a fazer-nos um veemente apelo à moderação no modo de pensar e de viver, combatendo os excessos desregrados, para que, nesta época de crise económica, os mais carenciados também possam ter, na mesa da abundância, o lugar a que têm direito, no âmbito da saúde, da habitação, da educação, do trabalho e das condições mínimas para um estilo de vida saudável.
Numa sociedade em que são frequentes os atropelos à justiça, pela distorção das leis e pelo retardamento culposo da sua correcta aplicação, a mensagem que brota do presépio continua a dirigir-se aos homens de boa vontade, para que unam o seu saber e os seus esforços, no restabelecimento da paz e da justiça, empenhando-se na erradicação da pobreza, na promoção da ecologia, no combate à fraude e à exploração vergonhosa dos pobres e dos inocentes. Quando a hipocrisia domina muitas das relações institucionais e o isolamento e a solidão afectam uma parte considerável da nossa população, é urgente que aprendamos com Jesus Cristo a reinventar um novo estilo de relação interpessoal.
Ele, que sempre estabeleceu relações autênticas de amor, de beleza e de bondade com o Pai e com todos quantos a Ele recorriam, convida-nos a viver a piedade, no seu sentido mais genuíno, tanto em relação a Deus como em relação aos nossos semelhantes, substituindo o ritualismo e a hipocrisia pela autenticidade, de forma que as palavras encontrem eco nas atitudes e estas sejam reforçadas pelos actos praticados.
Sentindo-me unido a todos os diocesanos, particularmente aos que sofrem ou se encontram em provação, desejo que todos saibam escutar a mensagem libertadora que brota do presépio e por ela a prendam a viver com moderação, justiça e piedade.
Natal de 2008
+José, Arcebispo de Évora

domingo, 14 de dezembro de 2008

III Domingo do ADVENTO
“…o Senhor … me enviou a anunciar a boa nova …,
a curar os corações atribulados,
a proclamar a redenção … e a liberdade …,
a promulgar o ano da graça do Senhor.
Exulto de
ALEGRIA no Senhor…”
Livro de Isaías

“Vivei sempre
ALEGRES, orai sem cessar,
dai graças em todas as circunstâncias …
avaliai tudo, conservando o que for bom.
Afastai-vos de toda a espécie de mal”.
1ª Carta de São Paulo aos Tessalonicenses
“…veio para dar
TESTEMUNHO da luz”.
Evangelho de São João

sábado, 13 de dezembro de 2008

Proclamando, pela sua vida,
a primazia de Deus Uno e Trino,
a monja Concepcionista mergulha e vive em Deus,
atingindo directamente o Seu Coração e despertando n'Ele,
pela oferta radical da sua vida e pela sua oração contemplativa,
uma fecundidade silenciosa e operante,
que se converte em chuva generosa e gratuita de bençãos,
para a Igreja e para o cosmos.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008



"Consumi-me de zelo
em defesa da honra
da minha Mãe Imaculada
e Ela livrou-me
de todas as tribulações".
frase atribuída a
Santa Beatriz da Silva
MARIA...
Maria, estritamente unida a Cristo pelo mistério da Sua Imaculada Conceição, foi predestinada desde toda a eternidade para ser Mãe de Deus (LG 61). A Imaculada Conceição é, pois, um mistério que preanuncia a existência e o significado de Maria.
Enriquecida desde o primeiro instante da sua Conceição com uma santidade inteiramente singular, Maria é modelada e feita nova criatura pelo Espírito Santo (LG 56), de quem se converte em sacrário vivo (LG 53).
Em existência humilde e em atitude permanente de fé, Maria responde ao amor infinito de Deus com o seu Fiat (Lc 1, 38), gerando o Filho de Deus e convertendo-se em fonte de salvação para todo o género humano (LG 56).
Maria segue a Cristo pela escuta fiel da sua palavra, pelo serviço e pela entrega dos direitos maternos junto à Cruz (Jo 19, 25) e converte-se em caminho de seguimento.
Maria, feita celeste e singular tálamo do Rei eterno (R 6) contempla silenciosa os mistérios do seu Filho, conservando todas as coisas no seu coração (Lc 2, 19.51).

CONSTITUIÇÕES GERAIS DA ORDEM DA IMACULADA CONCEIÇÃO, Edição Particular do Mosteiro da Imaculada Conceição de Campo Maior, Setembro, 1995, Capítulo I, Título II, 8 §1 e §2, 10, 12, 14.

domingo, 7 de dezembro de 2008

II Domingo do ADVENTO
“Eis o vosso Deus.
O SENHOR Deus VEM…”.
Livro de Isaías
“O Senhor não tardará
em cumprir a sua PROMESSA
deve ser santa a vossa vida
e grande a vossa piedade,
esperando a vinda do dia de Deus”.
2ª Carta de São Pedro
PREPARAI o caminho do Senhor,
endireitai as suas veredas”.
Evangelho de São Marcos

sábado, 6 de dezembro de 2008

Serva de Deus
madre Maria dos Anjos Sorazu oic
virgem e monja Espanhola
da Ordem da Imaculada Conceição

INFANCIA Y ADOLESCENCIA
Florencia Sorazu y Aizpurua nació el 22 de febrero de 1873 en Zumaya (Guipúzcoa), villa situada en la costa del Mar Cantábrico. Tuvo la dicha de ser bautizada ya al día siguiente en la iglesia parroquial de la misma villa. Sus cristianísimos padres, Mariano y Antonia, se habían casado en 1869, teniendo él 24 años y ella 20. Constituían una familia muy pobre, pues el oficio de Mariano era el de transportista y vendedor de pescado. Florencia nació en el mismo año que Santa Teresa del Niño Jesús, año que se corresponde también con el estallido de la tercera guerra carlista. El peligro que amenazaba a Zumaya, precisamente por causa de la guerra, obligó a que la familia se refugiara en el balneario de Cestona, donde vivió durante dos años.
Es sorprendente comprobar el avanzado uso de razón y delicadeza de conciencia de la niña, pues el primer pecado de su vida, del que se acusaría en sus confesiones generales como una falta de caridad, corresponde a ese período de estancia en Cestona, cuando debía contar dos o tres años de edad. Fue el mal juicio que formó respecto a una mujer, a quien oyó hablar desfavorablemente de una tercera persona. Muy pronto también, cuando tenía cuatro años, tras su regreso a Zumaya, recibió el sacramento de la Confirmación. Durante esa primera infancia Florencia asistió como parvulita a la escuela de las Hermanas Carmelitas de la Caridad y en ella sobresalió siempre en el aprendizaje del Catecismo.

Hacia 1879 algún revés económico y la mayor facilidad para el transporte del pescado fresco en ferrocarril hasta Tolosa, donde Mariano tenía un puesto de venta, movieron a los Sorazu a establecer su domicilio en San Sebastián, visitando el padre a su familia cada tres o cuatro días. En esta capital vivió Florencia desde los seis hasta los once años de edad y aquí acudió a la escuela de primera enseñanza, única que cursó y con una asiduidad irregular por sus frecuentes enfermedades. En esta época descubrió la niña que poseía una gran facilidad para profundizar en los misterios de la doctrina cristiana, hasta el punto de ser requerida por su maestra para que los explicara. A la edad de nueve años, correspondiendo al deseo de su madre, hizo el propósito de ser santa, aunque difirió su cumplimiento hasta que fuese mayor de edad, es decir cuando tuviera 25 años, pues pensaba ingenuamente que entonces gozaría de las fuerzas necesarias para no pecar en absoluto, según exigía, a su parecer, tal propósito.

En estos años de residencia en San Sebastián, en los que no le faltaron a la familia Sorazu desgracias y privaciones, murieron dos hermanitas de Florencia. La distracción de la pena causada por estas defunciones fue la razón principal para un nuevo cambio de domicilio, esta vez a Tolosa, cuando Florencia contaba once años. En esta edad recibió la Primera Comunión, ingresó en la congregación de Hijas de María y confesaba mensualmente.

En aquella época era muy frecuente que los hijos de familias pobres hubieran de dejar la escuela y buscar trabajo. Así sucedió con Florencia, que a sus trece años pasó un año sirviendo a una familia de San Sebastián, y después trabajó como obrera en la misma Tolosa, en la fábrica de boinas de Elósegui, enfrente de la cual se hallaba el domicilio familiar.

A los quince años y por el espacio de un solo año Florencia vivió un período crítico de disipación por causa de su afición a frecuentar las diversiones mundanas, que consistían en suma en los paseos de los días festivos y en el baile suelto, único admitido en aquel tiempo. “Así viví como pagana”, dirá en su Autobiografía.

CONVERSION Y VOCACION RELIGIOSA
Todo aquello acabó con una conversión fulminante, a raíz de una reprensión de la buena madre de Florencia, con motivo de su tardío regreso de la romería de San Pedro en 1889, cuando la joven contaba dieciséis años. A partir de ese momento, Florencia vivió todavía dos años en Tolosa, trabajando en la fábrica de boinas, pero se impuso un género de vida de absoluto retiro y dedicación a la oración y a las mortificaciones voluntarias. Se hizo socia del Apostolado de la Oración e ingresó en la Tercera Orden de San Francisco. Un encuentro de ese tiempo con una antigua compañera de diversiones y las palabras que se cruzaron entre ambas refleja la firmeza de carácter de Florencia y su decidida conversión: “Chica, ¡te has vuelto loca!”, le dijo aquella. A lo cual respondió Florencia: “Más loca eres tú.” Insistió su ex amiga: “¿Cómo te has vuelto así?” Terminante fue la respuesta de Florencia: “Pues como se vuelve una piedra al otro lado: ni más ni menos.”
Sin embargo, Florencia no pensaba en ser monja. El pensamiento que le asaltaba entonces era el de retirarse al desierto o vivir en una cueva, y poder así perfeccionar su vida de oración. Como a ella le parecían estas aspiraciones impropias a su condición de pecadora, no las comunicaba a su confesor habitual, D. Francisco Tellechea; pero este barruntaba alguna cosa, por lo que en cierta ocasión mandó a Florencia que fuera a confesarse con un sacerdote, D. Martín Barriola, párroco de Anoeta, que tenía fama de santo y que a la sazón confesaba en el mismo templo. Obedeció Florencia y, aunque tampoco dijo nada a D. Martín de sus anhelos, él adivinó sus pensamientos e indicó a la joven que Dios le deparaba el desierto en un convento de clausura. Ante la dificultad alegada por Florencia de la pobreza familiar para proporcionarle una dote, el confesor habitual, que confirmó el consejo de D. Martín, le sugirió que para obviar tal inconveniente recibiera unas lecciones de música, que le valdrían por dote para ingresar en una comunidad como cantora. Aceptó Florencia el consejo y siguió esas lecciones.

En 1890 Florencia viajó a Caspe, ciudad en la que permaneció unos días, para acompañar a una amiga, que había de tomar el hábito de Capuchina en el convento de Ntra. Sra. del Pilar, y ella misma quedó casi comprometida para ingresar en esa comunidad. Pero a principios de 1891, la inesperada muerte de la primogénita de la familia Sorazu, Concepción, unida al bulo propalado por alguna persona de tratarse de un caso de viruela, sumió a los Sorazu en una terrible tribulación. El hecho de que Florencia quedase como hija mayor - su hermano José Manuel había entrado en la orden de San Francisco -, obligó a retrasar medio año el ingreso de la joven en el convento, tiempo en el cual se produjo un cambio de rumbo en su proyecto de vida religiosa. En efecto, las monjas Concepcionistas Franciscanas del convento de La Concepción de Valladolid habían rezado los siete domingos a San José y novenas a la Virgen para conseguir una cantora. En esa situación, fue a Valladolid en cuestación el “pedigüeño” de las Capuchinas de Caspe, con un Niño Jesús, en cuya urna las Concepcionistas depositaron una limosna, al tiempo que le pedían una vez más una cantora. Al marcharse el “pedigüeño”, la tornera tuvo la feliz idea de preguntarle si conocía alguna joven que fuese cantora y quisiera ser monja. Y aquél le dio las señas de Florencia, a quien había conocido en Caspe. Sin pensarlo dos veces, la abadesa de La Concepción de Valladolid escribió a Florencia ofreciéndole entrar en el monasterio como cantora. Aunque Florencia quería mantener la palabra dada a las Capuchinas, su madre, conocedora de la poca salud de la hija y temerosa de que no pudiera resistir los rigores de esta orden, le aconsejó que aceptase la oferta de las Concepcionistas. Así pues, el 25 de agosto de 1891 Florencia, acompañada por su confesor D. Francisco Tellechea, tomó el tren en Tolosa para Valladolid, y el 26 por la tarde hizo su entrada en La Concepción.

PRIMEROS AÑOS DE VIDA RELIGIOSA (1891-1904)
Florencia pasó el mes de postulantado más triste que alegre. A la separación de su familia se unía el hecho de ver cierta relajación en la comunidad, compuesta por siete religiosas de coro y una hermana lega. La Abadesa y Maestra, a quien expuso sus temores, prometió darle todas las facilidades para que pudiera cumplir la Regla y le aconsejó que tomara el hábito, cosa que hizo el día de San Miguel, 29 de septiembre. Le fue impuesto el nombre de Sor María de los Ángeles.
Durante el año de Noviciado se vio privada de todo consuelo divino y humano. Echaba de menos a sus padres y hermanos. Sufría incertidumbre respecto al estado de su conciencia, que ya había padecido en el último año de su vida seglar, y la tentación de abandonar la comunidad y entrar en otra más observante. Ello se agravaba por no poner al confesor al corriente de sus interioridades. Con todo no podía decidirse a dejar a unas religiosas, que cifraban en ella todas sus esperanzas y le mostraban una gran deferencia y cariño. Así pues, vencida la tentación, el 6 de octubre de 1892 Sor Ángeles hizo su profesión solemne y empezó a cumplir los votos y la Regla con toda la perfección que Dios le exigía. En esa misma fecha de su profesión Sor Ángeles se consagró a la Virgen, escogiéndola por su protectora, Maestra, Directora y Reina. Ese descubrimiento, sin intermediarios humanos, de la perfecta consagración a la Virgen, que muchos años más tarde averiguó se hallaba en la base de la espiritualidad del entonces Beato Luis Mª Grignion de Montfort, fue el principio de su vida espiritual mariana.

El 15 de agosto de 1893 con una intervención de San Francisco, que ella no sabe explicar, se produjo en la vida de Sor Ángeles una segunda conversión. Se propuso consagrar a la oración todo el tiempo libre, quitar al sueño una o dos horas para practicar ejercicios de piedad, mortificarse con el ayuno y penitencias, meditar en la Pasión y en los Novísimos. Comenzó entonces en su vida un período de purificación o noche mística, al que ella denomina Purgatorio de la vida espiritual. El 25 de septiembre de 1894 tuvo lugar una entrega de Dios y un estado subsiguiente de unión, en el que Sor Ángeles vivió unos tres meses, pasados los cuales volvió a un estado más ordinario, en el que permaneció largos años con la nostalgia de la unión perdida, considerándose peregrina en el mundo y buscando ansiosamente a sus amores, Jesús y María, en la contemplación de la vida de Cristo.

Por un espacio de casi tres años, desde septiembre de 1895 hasta junio de 1898, a causa del estado ruinoso del monasterio que exigió obras de reparación, la comunidad de La Concepción hubo de trasladarse al convento de Concepcionistas de Jesús-María, en la misma ciudad de Valladolid. La cantora de oficio de Jesús-María, la M. Valeriana, apreció tanto a la M. Ángeles, que llegó a decir que no podría superar el desgarrón de la separación, cuando Sor Ángeles volviese a La Concepción; y, en efecto, murió al mes justo de haberse separado las dos comunidades. Decía que le había hecho más bien la conversación de Sor Ángeles que todos los sermones que había oído a todos los predicadores en el tiempo que llevaba en el convento, y sus ejemplos más que todo lo leído en los libros.

Por iniciativa de Sor Ángeles, la comunidad de La Concepción celebró la noche del 31 de diciembre de 1900 una memorable acción de gracias a Dios por todo el culto tributado a la Santísima Virgen durante el siglo XIX, singularmente por la definición dogmática de la Inmaculada Concepción.

El padre de Sor Ángeles, Mariano, a quien ella profesaba un vivísimo amor, había fallecido en Tolosa en mayo de 1900, y un año después, en abril de 1901, falleció también el único varón que quedaba en la casa familiar, su hermano Joaquín-Luis. Sor Ángeles, que desempeñaba el oficio de cantora desde 1891, al verse ya inútil en 1904 para el mismo por su pérdida de voz, motivada muy probablemente por sus excesos en ayunos y penitencias, pidió a su difunto hermano que le alcanzara la gracia de la dote para poder ser relevada de aquel oficio, y, en efecto, una señora de Valladolid, que luego ingresaría en el convento, hizo efectiva la dote.

Sor Ángeles, que vivía una intensa vida espiritual, conocía desde mucho tiempo atrás que Dios le pedía que se confiara a la dirección espiritual, pero ella no se atrevía a dar ese paso: lo deseaba, pero no se decidía a franquearse con los ministros de Dios, sin duda por una humildad mal entendida, fuera de lo imprescindible en el tribunal de la Penitencia. Sor Ángeles comprendía que necesitaba de dirección, porque veía que hacía poco aprecio de las gracias y favores de Dios, al pensar que no debían valer gran cosa cuando le eran otorgados a ella, pecadora. Pero, por otra parte, rehuía esa dirección espiritual porque Dios le había hecho entender que tan pronto como tuviera director espiritual sería nombrada abadesa, y temía que eso impediría su búsqueda de la soledad y el retiro para darse del todo a la oración y contemplación. Estando así las cosas, el 10 de diciembre de 1903 Dios le mostró su disgusto por la tardanza en cumplir esa orden relativa a la dirección espiritual. En consecuencia, al no existir en Valladolid por aquellas fechas ningún convento de Franciscanos ni Capuchinos, empezó Sor Ángeles a dirigirse en enero de 1904 con el P. Andrés de Ocerin-Jáuregui, del convento franciscano de La Aguilera (Burgos), que iba con alguna frecuencia a Valladolid. Y al mes de haberse confiado Sor Ángeles a la dirección del P. Andrés, el 21 de febrero de 1904 fue elegida Abadesa a los 31 años de edad, habiendo obtenido once votos de un total de doce religiosas votantes.

ABADESA DE LA CONCEPCION (1904-1921)
Ya en tres elecciones anteriores - en 1898, en 1900 y en1903 - la M. Ángeles había obtenido la mayoría, pero la elección no fue confirmada por la autoridad eclesiástica por falta de la edad requerida. Al ser elegida en 1904, Sor Ángeles manifestó que no aceptaría el cargo sino con la condición de que las religiosas aceptasen como verdadera Abadesa a la Santísima Virgen. La comunidad aceptó tal propuesta y, unos meses más tarde, en la celebración del 50 aniversario de la definición del dogma de la Inmaculada la misma comunidad nombró a la Virgen Abadesa perpetua. Aunque ese gesto de Sor Ángeles tenía ya un precedente en la Venerable María de Jesús de Ágreda (1602-1665), probablemente conocido por aquella, de hecho fue la misma Virgen María quien en 1895 le había ya revelado que sería Abadesa e invitado a que hiciera renuncia en Ella de tal cargo. Sor Ángeles sería Abadesa hasta su muerte en 1921, pues fue reelegida en las sucesivas elecciones trienales.
Sabemos que de 1906 a 1920 recibió en la comunidad hasta veinte jóvenes, a quienes daba ella misma los Ejercicios para las tomas de hábito y profesiones. Para su formación les daba a leer la Mística Ciudad de Dios de la Venerable María de Jesús de Ágreda y el Ejercicio de Perfección y Virtudes Cristianas del P. Alonso Rodríguez. Aunque a decir verdad Sor Ángeles ya había impulsado la reforma de la comunidad desde antes de su elección como Abadesa, a partir de la misma trabajó intensamente para que la caridad reinase en La Concepción, de modo que todas las religiosas se amasen con amor puro, sin amistades particulares, y fue rigurosa en la corrección y castigo de las faltas contra la caridad. Su bondad, mansedumbre y prudencia hicieron que en poco tiempo consiguiese lo que deseaba y llegase a vencer la resistencia de las religiosas más rebeldes, olvidando sus injurias, hablándoles cariñosamente, excusando sus intenciones y encomendándolas a Dios. Era muy celosa en que se guardase el silencio, observaba con esmero las reglas y constituciones y distribuía los oficios entre las religiosas más dignas sin ninguna acepción de personas. Recibía siempre con mucho agrado en su celda a todas sus hermanas de comunidad, y cuando despedía a alguna, por ser necesario, lo hacía con una gran delicadeza. Muchas veces corregía con la sola mirada. Procuró que los oficios litúrgicos se celebraran con la mayor dignidad e introdujo el Vía crucis diario, y también dos horas de meditación. Dirigía pláticas de gran calidad a la Comunidad, y animaba ella misma la recreación, que era de una hora, haciendo hablar a todas con preguntas que versaban generalmente sobre cosas de Dios y de la vida espiritual. Por lo que toca al aspecto material, hallándose el monasterio escaso de recursos, nunca faltó lo necesario, pues ella confiaba siempre en el Señor. Cuando la bolsa estaba vacía, ordenaba que la colgaran al cuello de la imagen de la Virgen o de San Antonio, y las limosnas llegaban puntualmente. Si bien tuvo que hacer bastantes reparaciones en el deteriorado convento, no tentaba a Dios en aventurarse a emprender obras sin tener los medios, y nunca dejó nada a deber a nadie: mandó entarimar la iglesia, hacer una casa para el capellán y una hospedería. Puso lavadero en el convento y ordenó que las mismas monjas hiciesen el lavado, dando ejemplo ella misma en lavar, como también en barrer, y se distinguió mucho en el servicio y atención a las religiosas enfermas.

DIRECTORES ESPIRITUALES Y ESCRITOS
La dirección espiritual del franciscano P. Andrés no duró mucho, pues no se creía competente para ello y surgieron envidias, que no les dejaban vivir. El segundo director de Sor Ángeles fue D. José Hospital Frago, Deán de la Catedral de Valladolid. Si bien nominalmente lo fue durante cinco años, su dirección fue real y efectiva sólo en los dos primeros, pues a fines de 1907 se produjo una dolorosa crisis en la dirección, causada por una visita del Sr. Arzobispo de Valladolid, Monseñor Cos, quien confesó a todas las religiosas y preguntó a Sor Ángeles con quién se dirigía. Conocido el nombre del director, el Arzobispo le dijo a Sor Ángeles que él no estaba conforme con la dirección que el Deán acostumbraba a impartir, por lo que debía buscar otro director y entre tanto continuar con el mismo, aunque sin revelarle este consejo confidencial. Se encontró así Sor Ángeles sujeta durante un largo período a ansiedades de conciencia, escrúpulos y temores, situación violenta a la que no encontraba salida. Esta situación se vio agravada en 1909, cuando el Deán fue nombrado confesor ordinario de la Comunidad y Sor Ángeles recibió una carta del Arzobispo en la que le prohibía comunicarse con aquél y detenerse en el confesionario.
Fue en 1910 cuando Sor Ángeles entendió que recobraría la paz de su alma con el primer confesor extraordinario que fuese a la comunidad. Este confesor fue el P. Mariano de Vega, quien como Provincial de los Capuchinos de Castilla había tanteado en 1908 las posibilidades de fundar un convento capuchino en Valladolid. En esos dos últimos años había visitado varias veces el convento de las Concepcionistas y conocido a Sor Ángeles, la cual quiso confesarse con él, pero sin conseguir obtener el permiso para ello del Sr. Arzobispo, por no haber cumplido todavía el P.Mariano los 40 años. Habiendo cesado éste en su cargo de Provincial en junio de 1910, fue destinado a León como Director y profesor del colegio teológico, y en estas circunstancias fue enviado el 1º de julio a La Concepción en calidad de confesor extraordinario. Con ello se inició una dirección de Sor Ángeles por el P. Mariano, que iba a efectuarse principalmente por medio de una extensa correspondencia, pues, aunque el director visitaba con alguna frecuencia a su dirigida, vivían en ciudades distintas. El P. Mariano ordenó a Sor Ángeles que le enviara una relación escrita de sus pecados y de los principales favores recibidos de Dios. Al leer esa relación de 126 páginas, el P. Mariano tuvo la feliz idea de mandarle escribir la Autobiografía. Ese trabajo, asumido por la M. Sorazu por obediencia y que fue causa de escrúpulos e inquietudes de conciencia al tener que escribir sobre sí misma, nos ha permitido disponer de páginas incomparables sobre el mundo sobrenatural, que tienen la frescura e inmediatez propias de los relatos de viajeros que visitan tierras lejanas. La compenetración entre el P. Mariano y Sor Ángeles fue total y grande el provecho de la última, pero surgió una nueva contradicción en la vida de la M. Sorazu. Como el P. Mariano gozaba de un gran prestigio en La Concepción y dirigía también a otras monjas, al parecer a causa de los celos del confesor ordinario se produjo una intervención de la Curia Arzobispal de Valladolid con un breve oficio, que prohibía a las religiosas del convento de La Concepción “todo trato de palabra y por escrito” con el “P. Fray Mariano de Vega, Capuchino del convento de León”. Así que durante unos dos años y medio Sor Ángeles quedó de nuevo sin director.

A principios de 1916 Sor Ángeles tomó por director al franciscano P. Narciso Nieto, que residía en Calabazanos (Palencia), pero no llegó a darle a conocer sus relaciones sobrenaturales, por lo que su dirección no fue muy efectiva. En octubre de 1917 asumió la dirección de Sor Ángeles el dominico P. Alfonso Vega, residente en Valladolid, a quien conoció con ocasión de unos Ejercicios que dio a la Comunidad. Este Padre, que era muy aficionado a la Mística y a las obras de Santa Teresa, en un principio expresó un juicio negativo respecto a la espiritualidad de su dirigida. Pero Sor Ángeles, siempre dispuesta a admitir reparos, defendió con tal firmeza la realidad de los favores de Dios de que era objeto y de los que tenía plena evidencia, que hizo cambiar de parecer al P. Alfonso. Éste no sólo aprobó el espíritu de Sor Ángeles sino que le mandó que escribiera el tratado que lleva por título La Vida Espiritual, su obra principal, en la que expone la influencia de la devoción mariana en la vida mística. Hacia 1913 ó 1914 se había leído en comunidad el opúsculo Vida Mariana del jesuita P. Nazario Pérez. Al ver la gran coincidencia entre su espiritualidad y la que se enseña en ese opúsculo, en cierto momento Sor Ángeles entendió que era voluntad de Dios que hiciese depositario de sus escritos al P. Nazario, para evitar que algún día se publicaran con un enfoque diverso. Si bien el P. Alfonso se opuso al principio al envío de los escritos al P. Nazario, opinando que debían ser enviados a los franciscanos por razón de la afinidad espiritual de las Concepcionistas con la Orden Franciscana, la M. Sorazu insistió firmemente en que era voluntad de Dios que fuese el jesuita y no otro el depositario de los escritos, por lo que finalmente el P. Alfonso otorgó el permiso para dicho envío. A principios de 1920 concluyó la dirección del P. Alfonso, al ser destinado por los superiores a Santiago.

Desvanecidos los recelos y calumnias que los celos habían acumulado sobre la dirección del P. Mariano, y habiendo fallecido el cardenal Cos en diciembre de 1919, el Obispo auxiliar y Vicario Capitular D. Pedro Segura escribió a la M. Ángeles en abril de 1920 autorizándola a dirigirse por escrito con el P. Mariano, que ahora residía en Bilbao y era Maestro de Novicios, y a confesarse con él cuando pasara por Valladolid. Poco más de un año de vida le quedaba ya a Sor Ángeles. Por las cartas cruzadas entre el P. Mariano y la M. Sorazu, entre 1910-1913 y 1920-1921, se ve claro que de todos sus directores Sor Ángeles sólo consideró al P. Mariano como su Padre-verdad. El P. Mariano ordenó a Sor Ángeles que reclamara sus escritos al P. Nazario Pérez, y aunque ella persistía en su anterior voluntad, persuadida como estaba de que era voluntad de Dios el depósito anteriormente efectuado, obedeció al P. Mariano. Pero el P. Nazario contestó que, si bien ella hacía bien en obedecer a su director, él no estaba obligado a devolver lo que ella había voluntariamente cedido. El P. Mariano desistió de su empeño, pero pidió al P. Nazario que dejara en suspenso su proyecto de edición de las obras, a lo cual accedió gustosamente el segundo.

ULTIMA ENFERMEDAD Y MUERTE
En Agosto de 1920 había fallecido en Tolosa, a la edad de 78 años, la madre de Sor Ángeles. Ésta, por su parte, se hallaba falta de salud. Las mismas comunicaciones místicas aniquilaban sus fuerzas naturales. Decía ella que no podía tener salud mientras tuviera memoria de que hay Dios, pues el alma con todas sus fuerzas vitales se siente arrastrada hacia Dios y desempeña mal las funciones orgánicas. Sor Ángeles practicó un retiro de cuarenta días pocos meses antes de su muerte como ensayo para la vida del cielo. Tras haber pasado muy mal el invierno, empeoró por Pascua de Pentecostés de 1921. El nuevo Arzobispo de Valladolid, Don Remigio Gandásegui, fue a visitarla y darle la bendición el 13 de junio. El 15 de agosto se agravó su estado de tal modo que ya no pudo levantarse de la cama. En los últimos días tuvo muchos dolores y vómitos de sangre. Falleció en medio de grandes sufrimientos con un copioso vómito de sangre y tras haber pronunciado las palabras: “Maternidad divina, asísteme”, hacia las seis de la mañana del domingo 28 de agosto de 1921, a consecuencia de un cáncer, según el dictamen médico.
RAMON OLMOS MIRO, m.C.R.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O tempo do Advento
Eis chegado, irmãos caríssimos, o tempo tão celebrado e solene, o tempo favorável, como diz o Espírito Santo, os dias da salvação, da paz e da reconciliação. É o tempo que outrora os Patriarcas e Profetas tão ardentemente desejaram com seus votos e suspiros; o tempo que o justo Simeão finalmente pôde ver cheio de alegria, que a Igreja sempre tem celebrado solenemente, e que também nós devemos santificar em todo o momento com fervor, dando graças e louvores ao Pai eterno pela infinita misericórdia que nos revelou neste mistério: Ele enviou-nos seu Filho Unigénito, pelo imenso amor que tem aos homens, pecadores, para nos livrar da tirania e do império do demónio, convidar-nos para o Céu, revelar-nos os mistérios do seu reino celeste, mostrar-nos a luz da verdade, ensinar-nos o caminho da perfeição, comunicar-nos o gérmen das virtudes, enriquecer-nos com os tesouros da sua graça e, enfim, adoptar-nos como filhos seus e herdeiros da vida eterna.
Ao celebrar todos os anos este mistério, a Igreja convida-nos a renovar perpetuamente a memória do amor infinito que Deus mostrou para connosco; e ao mesmo tempo nos ensina que o advento de Cristo não foi apenas para os seus contemporâneos, mas que a sua eficácia nos é comunicada a todos nós, se quisermos receber, mediante a fé e os sacramentos, a graça que nos mereceu, e orientar de acordo com ela os costumes da nossa vida segundo os seus mandamentos. Além disso, a Igreja espera fazer-nos compreender que assim como Ele veio uma vez, revestido da nossa carne, a este mundo, também está disposto, se não oferecermos resistência, a vir de novo, em qualquer hora e momento, para habitar espiritualmente em nossas almas com abundantes graças.
Por isso, a Igreja, como Mãe piedosa e solícita pela nossa salvação, ensina-nos durante este tempo, com diversas celebrações, com hinos, cânticos e outras vozes do Espírito Santo, a receber convenientemente e de coração agradecido este benefício tão grande e a enriquecer‑nos com seu fruto, de modo que o nosso espírito se disponha para a vinda de Cristo nosso Senhor, com tanta solicitude como se Ele estivesse para vir novamente ao mundo e com a mesma diligência e esperança com que os Patriarcas do Antigo Testamento nos ensinaram, tanto em palavras como em exemplos, a preparar a sua vinda.
Das Cartas Pastorais de São Carlos Borromeu, bispo (século XVI)
(Acta Ecclesiae Mediolanensis, t. 2, Lugduni, 1683, 916-917)