terça-feira, 23 de março de 2010

Virgem Negra de Częstochowa
Polónia
O Santuário de Częstochowa encontra-se na Polónia e é um dos mais importantes centros de culto católico. Todos os anos, é visitado em média por quatro a cinco milhões de peregrinos de 80 países do mundo.

A imagem da Virgem Negra com o Menino é de tradição medieval. Segundo os especialistas em arte, o quadro segue o modelo da iconografia bizantina: trata-se da imagem denominada “Odigitria”, “Aquela que indica e guia ao longo do caminho”.
A tradição narra que São Lucas a pintou, pois, sendo contemporâneo de Maria, pôde retratar sua verdadeira face. A imagem foi levada a Jasna Góra - que em polaco significa “Montanha Luminosa” - em 1382 pelo príncipe Ladislau de Opole, que mandou construir a cidade no alto de uma colina e chamou os monges Paulinos para que cuidassem do Santuário.
O rosto do Menino olha para o observador. O olhar, ao invés, dirige-se para o além, como se olhasse para um panorama distante de tempo e de lugar. Seja a Mãe, seja o Filho, parecem imergirem-se em pensamentos profundos, representando uma grande sabedoria. Os rostos são escuros e contrastam com a luminosidade que os circunda. Maria indica ao peregrino o Menino, e o Menino numa mão segura o livro, e com a outra abençoa, com um gesto simples e soberano ao mesmo tempo.
Em todos os momentos de dificuldades da Polónia, a população une-se em torno de Nossa Senhora Negra de Częstochowa e do Menino, incrementando assim o número de peregrinos. Ainda hoje, durante o verão, são dezenas de milhares as pessoas que vão a pé ao Santuário. A imagem é escura também pelo fumo das velas sempre acesas diante da imagem.
Também Karol Wojtyla realizou esta peregrinação em 1936, quando a Polónia vivia-se sob o regime comunista.


sexta-feira, 19 de março de 2010

Em São José
“O primado da vida interior”
… na casa de Nazaré se estende o mesmo clima de silêncio, que acompanha tudo aquilo que se refere à figura de José. Trata-se, contudo, de um silêncio que desvenda de maneira especial o perfil interior desta figura. Os Evangelhos falam exclusivamente daquilo que José «fez»; no entanto, permitem-nos auscultar nas suas «acções», envolvidas pelo silêncio, um clima de profunda contemplação. José estava quotidianamente em contacto com o mistério «escondido desde todos os séculos», que «estabeleceu a sua morada» sob o tecto da sua casa.
O sacrifício total, que José fez da sua existência inteira, às exigências da vinda do Messias à sua própria casa, encontra a motivação adequada na «sua insondável vida interior, … dela lhe decorrem também a lógica e a força, própria das almas simples e límpidas, das grandes decisões, como foi a de colocar imediatamente à disposição dos desígnios divinos a própria liberdade, a sua legítima vocação humana e a felicidade conjugal, aceitando a condição, a responsabilidade e o peso da família e renunciando, por um incomparável amor virgíneo, ao natural amor conjugal que constitui e alimenta a mesma família».
Esta submissão a Deus, que é prontidão de vontade para se dedicar às coisas que dizem respeito ao seu serviço, não é mais do que o exercício da devoção, que constitui uma das expressões da virtude da religião.
…as almas mais sensíveis aos impulsos do amor divino vêem em José um exemplo luminoso de vida interior.
cf. João Paulo II «REDEMPTORIS CUSTOS» 25-27

quinta-feira, 18 de março de 2010

Nota Pastoral sobre a Visita do Papa Bento XVI a Portugal
Segundo documento dos Bispos portugueses sobre a viagem do Papa a Portugal
A visita do Papa Bento XVI a Portugal é um acontecimento de singular importância e, por isso, deve ser preparada condignamente, não apenas no brilho exterior e no ambiente festivo, mas sobretudo no horizonte da fé, da construção da unidade eclesial e de uma sociedade mais justa e fraterna.
Vem até nós como peregrino e a Igreja em Portugal deverá caminhar com o sucessor de Pedro, redescobrindo no cristianismo uma experiência de sabedoria e missão.
Sabedoria vivida no conhecimento das realidades terrestres, a partir de uma referência a valores, de modo que, na fidelidade à identidade cristã, sejamos capazes de dar um contributo positivo à construção de uma sociedade mais justa; missão como itinerário de uma vida que se quer mergulhada no mundo, mas diferente em opções e atitudes, e que, sobretudo pelo exemplo, anuncia Cristo e a sua boa nova.
1. PREPARAÇÃO ADEQUADA
Há uma feliz coincidência entre o tempo que antecede a visita do Santo Padre e a vivência litúrgica da Quaresma e do Tempo Pascal.
1.1. Na Quaresma, será importante reflectir e responder aos desafios da mensagem preparada pelo Papa Bento XVI: “A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo” (cf. Rm 3, 21-22). Destacamos três pensamentos:
– A justiça será possível na medida em que se der ao homem o que ele verdadeiramente requer: Deus. Isto acontecerá através do testemunho de comunidades que se deixaram converter pelas interpelações de um anúncio fiel do Evangelho.
– Comprometer-se com a justiça exige trabalho interior para afastar uma “força de gravidade estranha” que permanentemente nos impele para o egocentrismo, a afirmação pessoal e o individualismo. Só vivendo em conversão permanente, a Igreja poderá apresentar‑se com credibilidade, num mundo em que se pretende impor o relativismo e o indiferentismo.
– Ser justo implica assumir uma dinâmica libertadora do pobre, do oprimido, do estrangeiro, da viúva, do órfão... “O cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver, segundo a própria dignidade de pessoa humana, e onde a justiça é vivificada pelo amor”.
1.2. A Páscoa pode e deve tornar-se tempo favorável para mostrar ao mundo um “rosto de gente salva”, feliz, porque infinitamente amada por Deus. É importante que Cristo actue em nós, nos redima, nos transforme a mente e o coração, nos liberte do mal. Só assim seremos verdadeiros rostos de Cristo no mundo onde Ele nos envia e aí assumiremos o estatuto de apóstolos corajosos que concretizam uma necessária e urgente comunicação de Cristo nos ambientes do agir quotidiano: política e saúde, indústria e comércio, agricultura e pescas, educação e ensino, trabalho e lazer.
O dinamismo da Páscoa de Cristo precisa de encarnar em atitudes e gestos de esperança perseverante e de amor criativo.
2. ACOLHER A MENSAGEM
A visita do Papa não é apenas a Lisboa, a Fátima e ao Porto, mas a todo o Portugal, a todos os portugueses e também aos nossos irmãos imigrantes que trabalham e convivem connosco. O Papa a todos quer saudar, independentemente do seu credo ou da sua ideologia.
Assim, a nossa presença nos diversos momentos e lugares do programa da visita, testemunhará o amor ao Papa e a vontade explícita de aceitar as suas propostas. Para facilitar a comunicação, foi criado um site oficial – www.bentoxviportugal.pt – onde é possível encontrar as mais variadas informações, de modo a dinamizar a preparação, a realização e a continuidade da visita.
3. CONTINUIDADE E COMPROMISSOS
A nossa tradição cristã está marcada pelo respeito, apreço e fidelidade à Igreja de Roma. A cátedra de Pedro e dos seus sucessores, como recorda S. Inácio de Antioquia, é «a que preside na caridade», entre todas as Igrejas locais.
Preparar a visita do Papa Bento XVI e acolher os seus desafios deverá desenvolver em nós os dinamismos seguintes:
– Reavivar a nossa fé através de um encontro mais consciente com a Palavra de Deus, dando às nossas comunidades um rosto missionário.
– Dinamizar a nossa esperança, para podermos abrir caminhos de solução às dificuldades e crises que a nossa sociedade atravessa.
– Revigorar a nossa caridade, dando maior consistência aos inúmeros espaços de solidariedade e acção social, como resposta aos dramas da sociedade, particularmente as novas formas de pobreza.
– Fortalecer a nossa unidade através de um projecto de pastoral comum, acolhido por todas as comunidades, com o intuito de poder responder às alterações civilizacionais em que vivemos.
4. ACÇÕES CONCRETAS A PROMOVER
Confiando na criatividade das Dioceses e Paróquias, Congregações e Movimentos, apresentamos algumas sugestões para a preparação da visita de Sua Santidade o Papa Bento XVI:
– Colocar esta visita nas intenções da oração pessoal e comunitária.
– Aproveitar as acções de formação que a Igreja costuma promover (Retiros, Cursos, Encontros, Palestras, Publicações) para abordar temas relacionados com o Papa: Igrejas particulares e Igreja universal; Missão do Bispo de Roma e Pastor da Igreja universal; Catolicidade e diversidade, obediência e liberdade na Igreja; Temas fundamentais do magistério do Papa Bento XVI, etc.
– Promover e facilitar a participação nas celebrações eucarísticas presididas pelo Santo Padre em Portugal (Lisboa, Fátima e Porto) e noutros encontros de sectores.
Queremos apelar a todos, para que não deixem que esta visita do Santo Padre se esgote num mero acontecimento passageiro, porventura muito participado e festivo, mas que seja antes uma semente que germine e dê frutos de renovação espiritual, apostólica e social.
Fátima, 1 de Março de 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

Jejum (2)
As Sagradas Escrituras e toda a tradição cristã ensinam que o jejum é de grande ajuda para evitar o pecado e tudo o que a ele induz. Por isto, na história da salvação é frequente o convite a jejuar. No Novo Testamento, Jesus ressalta a razão profunda do jejum, condenando a atitude dos fariseus, os quais observaram escrupulosamente as prescrições impostas pela lei, mas o seu coração estava distante de Deus. O verdadeiro jejum, repete também noutras partes o Mestre divino, é antes cumprir a vontade do Pai celeste, o qual «vê no oculto, recompensar-te-á» (Mt 6, 18). Ele próprio dá o exemplo respondendo a Satanás, no final dos 40 dias transcorridos no deserto, que «nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4, 4). O verdadeiro jejum finaliza-se portanto a comer o «verdadeiro alimento», que é fazer a vontade do Pai (cf. Jo 4, 34). Portanto, se Adão desobedeceu ao mandamento do Senhor «de não comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal», com o jejum o crente deseja submeter-se humildemente a Deus, confiando na sua bondade e misericórdia. Encontramos a prática do jejum muito presente na primeira comunidade cristã (cf. Act 13, 3; 14, 22; 27, 21; 2 Cor 6, 5). Também os Padres da Igreja falam da força do jejum, capaz de impedir o pecado, e de abrir no coração do crente o caminho para Deus. A prática fiel do jejum contribui ainda para conferir unidade à pessoa, corpo e alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor. Privar-se do sustento material que alimenta o corpo facilita uma ulterior disposição para ouvir Cristo e para se alimentar da sua palavra de salvação. Com o jejum e com a oração permitimos que Ele venha saciar a fome mais profunda que vivemos no nosso íntimo: a fome e a sede de Deus. Ao mesmo tempo, o jejum ajuda-nos a tomar consciência da situação na qual vivem tantos irmãos nossos. Na sua Primeira Carta São João admoesta: «Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como estará nele o amor de Deus?» (3, 17). Jejuar voluntariamente ajuda-nos a cultivar o estilo do Bom Samaritano, que se inclina e socorre o irmão que sofre (cf. Enc. Deus caritas est, 15). Escolhendo livremente privar-nos de algo para ajudar os outros, mostramos concretamente que o próximo em dificuldade não nos é indiferente. Privar-se voluntariamente do prazer dos alimentos e de outros bens materiais, ajuda o discípulo de Cristo a controlar os apetites da natureza fragilizada pela culpa da origem.
Bento XVI, da Mensagem para a Quaresma de 2009

sábado, 13 de março de 2010

Jejum (1)
“Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.” (Mt 6, 17-18)
O jejum é uma antiquíssima prática cristã, recebida de Jesus. Os monges sempre a acolheram generosamente e lhe fizeram honra.
O jejum monástico expressa a humilde condição da criatura perante Deus, desperta no monge o desejo espiritual e permite participar da compaixão de Cristo para com os famintos.
A fome corporal só pretende recordar e avivar uma fome espiritual que rói a todo o homem: a fome da Palavra de Deus. Quem jejua proclama que os alimentos terrenos não podem saciá-lo enquanto não tenha recebido essa Palavra em plenitude.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Silêncio
“Guarda o silêncio do coração, e não prestes atenção nem consideração aos pensamentos estranhos a Deus. Simplesmente não respondas aos pensamentos ilícitos; despreza-os, afasta-os com alegria para longe de ti e fecha quase com violência o teu coração. Guarda-o no silêncio para que nada entre ali senão com Aquele que só deve ser o objecto do teu pensamento Jesus-Deus. Que só Ele seja o habitante do teu coração, que jamais o abandone.”
(POR UN CARTUJO, [Lanspergio, monge Cartuxo (1489/90-1539)], in “«Antologia de autores cartujanos», Itinerário de contemplación”, Editorial Monte Carmelo, Burgos 2008, pg. 147)
Tradução do Castelhano ao Português da responsabilidade do autor deste blog.

sábado, 6 de março de 2010

Unificação
“…tenho o desejo de partir
e estar com Cristo…” (Fl 1, 23)
Entra-se no mosteiro para ser monge, quer dizer, para conseguir a unidade. O mundo é dispersão, divisão por isso, divide, dispersa e descentra. O monge, filho deste mundo dividido e disperso, sentiu o chamamento de Deus ao mosteiro, lugar de unificação com o Senhor e com os homens.
Por uma necessidade absoluta de Deus: “Ó Deus, Tu és o meu Deus! Anseio por Ti! A minha alma tem sede de Ti; todo o meu ser anela por Ti, como terra árida, exausta e sem água” (Sl 63 [62], 2) e de viver só para Deus, pois a isso é chamado, o Monge rejeita e abandona tudo aquilo que o possa distrair, dispersar, distanciar, desunir e descentrar de Deus: "... para a alma acertar no caminho para Deus e se unir com Ele, há-de ter a boca da vontade aberta só para Deus, vazia e sem nenhum pedaço de apetite, a fim de que Deus a encha e farte do seu amor e doçura; há-de viver com fome e sede só de Deus, sem querer satisfazer-se com mais nada, ... É o que ensina Isaías quando diz: Todos vós que tendes sede, vinde às águas, etc. (Is 55, 1). Ele convida os que têm sede só de Deus, e o apetite de nada, à abundância das águas vivas da união com Deus.” (São João da Cruz)
O fim desta opção radical por Deus é a união e a comunhão com o próprio Deus e, ser testemunha, para os demais, que “uma só coisa é necessária” (Lc 10, 42), Deus.
A vocação contemplativa do monge e o seu fim espiritual manifesta-se especialmente na celebração da Liturgia, nela e com ela robustece-se e dilata-se o sentido íntimo da nossa vocação monástica e a comunhão entre os irmãos. Escuta-se diariamente a Palavra de Deus, oferece-se a Deus Pai o sacrifício de Louvor, participa-se no mistério de Cristo e realiza-se a obra de santificação pelo Espírito Santo.
A oração é a nossa respiração, é respiração para a Igreja, pois existimos para a sustentar na sua missão de sacramento universal de salvação, com a nossa oração que é a oração da Igreja nossa Mãe.
Os monges, devemos acolher o Ofício da Oração e da contemplação, a que somos chamados, como uma necessidade vital, pois é oxigénio para o Corpo de Cristo e para o caminho de configuração e fidelidade a Cristo a que somos chamados antes ainda de sermos gerados no ventre de nossas mães (cf. Jr 1, 5).