quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Mensagem de Natal
do Arcebispo de Évora

Manifestou-se a graça de Deus
A iluminação dos espaços públicos, os insistentes anúncios publicitários e a agitação febril das compras anunciam a todos com repetida insistência que se aproxima o Natal.
Para os cristãos a festa do Natal tem a dupla finalidade de comemorar a manifestação da graça de Deus em Belém, com o nascimento de Jesus, e de tornar presente a poder salvífica dessa manifestação que continua a actuar na nossa sociedade. Ao celebrar o Natal, comemoramos o passado e podemos vivenciar com intensidade a presença espiritual do mesmo Salvador, no meio de nós.
Os evangelistas que relatam o nascimento de Jesus acentuam dois aspectos diferentes. Por um lado, documentam a historicidade dos factos e as condições de simplicidade e pobreza em que tudo aconteceu. Tudo foi muito humilde e sem qualquer espécie de notoriedade. O nascimento de Jesus passou despercebido à grande maioria da população. Por outro lado, dão relevo a pormenores de grande importância messiânica e salvífica dos quais apenas alguns pastores de Belém e uns magos vindos do Oriente tiveram conhecimento, através de fenómenos celestes extraordinários. A eles foi revelada a divindade de Jesus, o Salvador prometido. Com Maria e José, foram eles os primeiros a quem se manifestou da graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens (Tito 2,11).
Como em Belém, também hoje o nascimento de Jesus passa despercebido para muitas pessoas que não se dão conta de tão sublime manifestação da graça de Deus. Porém, outros há que, iluminados não com a luz das estrelas mas com a luz da fé, se sentem inundados com a fulgurante manifestação dessa graça. Como os pastores e os magos, reconhecem a presença do Salvador disfarçada na humanidade sofredora dos pobres do nosso tempo e acorrem pressurosos a exprimir o seu agradecimento sincero com donativos.
Com efeito, os tradicionais presentes de Natal, causadores de tanta agitação e de tão elevadas despesas, nesta quadra natalícia, evocam os presentes que os pastores e os magos deram ao menino Jesus. Porém, forçoso é reconhecer que a habitual troca de prendas poder ser destituída da autêntica gratuidade na medida em que for contaminada pelo espírito de consumismo e de interesse comercial que domina as relações interpessoais nos nossos dias.
Ora, tal como a manifestação da graça se tornou gratuitamente fonte de salvação para todos, apesar pecadores, como nos ensina a carta a Tito, assim também na festa do Natal todos somos convidados a exprimir gratuidade para com os nossos concidadãos mais carenciados. E são tantos os que lutam com dificuldades económicas e de outra ordem, nos nossos dias e no nosso meio. Além dos problemas económicos, a nossa sociedade está marcada pela solidão, pela marginalização, pelas doenças crónicas e incuráveis, pela orfandade, pelo abandono de crianças e tantas outras situações de precariedade e de miséria moral e material. A todos eles se referia Jesus ao dizer o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos a Mim o fizestes (Mt 25,40). Com efeito, se reconhecemos em Jesus o Salvador e acreditamos nas Suas palavras, então temos muitas formas de nos encontrarmos com Ele e de Lhe oferecermos os nossos presentes, com o mesmo espírito de alegria e de gratidão dos pastores e dos magos.
Os magos que vieram do Oriente eram pagãos e ricos. Ofereceram ouro, incenso e mirra. Os pastores pertenciam ao povo de Israel e eram pobres. Ofereceram os dons da sua pobreza. Uns e outros se sentiram gratuitamente agraciados com os bens celestes da graça de Deus. E todos corresponderam com o que tinham ao seu alcance.
Esses factos sugerem-nos que ninguém fica excluído da salvação trazida por Jesus Cristo. E, por isso, todos nós, seja qual for a nossa condição, em troca dos dons sublimes que nos foram dados por Deus, devemos oferecer também algo do que possuímos. E todos temos muito para oferecer. Tal como a maior pobreza não é a falta de bens materiais mas a falta de amor, também o maior dom não são os presentes materiais mas o amor sincero e gratuito. Amor é o que todos podemos dar sem custos económicos e é o que mais falta faz na nossa sociedade, envenenada pela frieza das relações interpessoais e carecida do calor vivificante que só o amor lhe pode dar.
Termino com um convite: imitemos os pastores e os magos, oferecendo com generosidade algo do que nos foi dado. E, com alegria contagiante, digamos a todos: manifestou-se a graça de Deus, que é fonte de salvação para todos os homens.
Desejo a todos um Natal rico de amor!
Évora, 16 de Dezembro de 2009
+ José, Arcebispo de Évora

sábado, 19 de dezembro de 2009

O Verbo de Deus se fez Carne
Evangelho do Pai chamado a ser restituído
Caros Irmãos,
o Senhor vos dê paz!

VIII centenário da fundação da Ordem

Está para terminar o ano jubilar no qual celebramos
os 800 anos da fundação da nossa Ordem, com a aprovação, por parte do senhor Papa, da forma vitae evangélica que o Altíssimo revelou a Francisco, e que o Poverello tinha feito escrever com poucas e simples palavras (cf. Test 14,15). Ao concluir as celebrações, queremos, mais uma vez, louvar e bendizer o Altíssimo, Omnipotente e bom Senhor, pelo dom de Francisco à Igreja e ao mundo, e pelo dom de tantos irmãos e irmãs que durante este tempo, seguindo a inspiração do Senhor (cf. RnB 2,1), tem vivido em fidelidade criativa e alegre a forma de vida que nosso seráfico Pai nos transmitiu. Entre todos eles emerge a figura de Clara, a Plantinha de Francisco.
As celebrações do oitavo centenário da fundação da Ordem dos Frades Menores iniciaram com um insistente convite à refundação, ou seja, um apelo a voltar ao essencial, aos fundamentos do nosso carisma; a retornar às raízes da nossa espiritualidade; e, ao mesmo tempo, a reconhecer, ler e interpretar, à luz do Evangelho, os sinais dos tempos: “lampejos de luz presentes na noite obscura dos povos, faróis geradores de esperança” (O Senhor te dê a paz = Sdp 6), “apelos que o Espírito nos lança e que pedem resposta” (Portadores do dom do Evangelho = PdE 14).
Então ressoou forte em nossos corações o premente apelo a “nascer de novo" (Jo 3,3), a não domesticar as palavras proféticas do Evangelho para adaptá-las a um estilo de vida cómodo (Sdp 2), porque só assim poderemos nutrir a partir de dentro, com a força libertadora do Evangelho, o nosso mundo fragmentado, desigual e faminto de sentido, assim como fizeram no seu tempo Francisco e Clara de Assis (Sdp 2), sendo nós mesmos sinais legíveis de vida para um mundo sedento de céus novos e terra nova (Sdp 7). Este mesmo chamado à conversão continua a nos acompanhar hoje no nosso caminho, como exigência para dar à luz uma nova época, e forjar uma nova visão da vida, cimentada sobre a justiça, o amor e a paz (cf. Sdp 2).
E voltando ao essencial, às nossas raízes e fundamentos, nos encontramos com o Evangelho. Não podia ser diversamente, visto que a nossa Fraternidade é enraizada, tem sua origem na escuta do Evangelho e, portanto, em Cristo que nos fala através dele (cf. PdE 6). Fazendo grata memória do nosso passado tomamos maior consciência do fato que, para degustar a graça das origens, viver o presente com paixão e abraçar o futuro com esperança (cf. Novo Millennio Ineunte, 1), objectivos últimos das celebrações jubilares, era necessário tornar ao Evangelho, colocar Cristo no centro das nossas vidas. Somente assim a nossa vida poderá recuperar a beleza, a poesia e o entusiasmo das origens.
Intuímos também o caminho que, além de reconduzir-nos ao essencial da nossa experiência de fé e da nossa espiritualidade, nos levasse a responder às exigências mais profundas da nossa sociedade. Indicamos este caminho com três palavras: centrar-se, concentrar-se e descentrar-se. Centrar-se n'Aquele que para nós deve ser tudo: o bem, todo o bem, o sumo bem, como o foi para Francisco (cf. LD 4). Daí que ter o coração constantemente voltado para o Senhor (cf. RnB 22,19), se apresentava e continua a apresentar-se a nós como a prioridade das prioridades. Livrar-nos de todo o tipo de impedimento e deixar de lado toda a preocupação, para poder servir, amar e honrar o Senhor Deus, com coração e mente puros (cf. RnB 22,26), nos parecia e nos parece ser o grande desafio neste momento em que o activismo, também apostólico, se apresenta como uma fuga que busca, inutilmente, preencher o vazio de Deus na própria existência. Concentrar-se nos elementos essenciais do nosso carisma, com a finalidade de evitar a fragmentação e a dispersão, que tantas vezes nos atinge. E estes elementos essenciais os individuamos nas assim chamadas Prioridades que nos acompanham desde o Capítulo de 1997 como chave de leitura para viver a nossa identidade e parar compreender as esperanças do mundo (Sdp 4), e que, por vontade do Capítulo de Pentecostes de 2009, continuarão a acompanhar-nos neste sexénio (cf. Decisões 1). Estas Prioridades – espírito de oração, vida fraterna em comunidade, minoridade, pobreza e solidariedade, evangelização e formação -, não são valores opcionais, mas valores que nos identificam como Frades Menores, pilares da nossa fidelidade ao Evangelho, consequência de uma vida radicalmente evangélica, assim como a viveu Francisco e a propôs a nós no seu propósito de vida. Descentrar-se para ir ao mundo, nosso claustro, e ali, inter-gentes, proclamar que somente Ele é omnipotente (cf. Ord, 9). Hoje, mais do que nunca, somos conscientes de que não fomos chamados para nós mesmos, mas para os outros, e que as nossas Fraternidades não são para si mesmas, mas para fazer conhecer o Reino de Deus. Somos e queremos continuar a ser os frades do povo e por isso devemos sair pelas estradas do mundo como portadores do dom do Evangelho.
Diante do futuro

Tendo assumido a nossa total pertença ao
Senhor - centrar-se -, e a nossa identidade de Frades Menores – concentrar-se -, é agora o momento de ir por todo o mundo – descentrar-se -, sempre inter gentes, porém também ad gentes, para levar, com a nossa vida e a nossa palavra, a Boa Notícia a todos os homens e mulheres de boa vontade.
O Capítulo geral de 2009, no seu documento final Portadores do dom do Evangelho, nos pensa e define precisamente assim: “caminhando pelas estradas do mundo como irmãos menores evangelizadores, com o coração voltado ao Senhor” (PdE 10). Eis aqui o nosso programa para um presente cheio de paixão pelo Reino e para um futuro com esperança: reviver o carisma, dinamizando a missão. Eis o nosso compromisso para estes próximos anos: reavivar em nós o ardor missionário e evangelizador, para restituir o dom do Evangelho, dentro dos limites geográficos dos nossos povos, mas, se agradar a Deus, até os confins da terra.
Sim, conscientes de que o “Evangelho é um
dom destinado a ser partilhado”, somos chamados a ir pelas estradas do mundo, atravessando as fronteiras, os limites geográficos e culturais, “para fazer uma oferta de fé mediante um testemunho compartilhado” (PdE 11) com todos os outros agentes da evangelização: sacerdotes, religiosos/as e leigos/as. Partimos sempre da “centralidade devida ao Deus trino, como princípio integrador da nossa vida, das nossas fraternidades e dos nossos irmãos”, porque somente desde esse pressuposto de fé, poderemos entender que a missão evangelizadora é essencialmente intrínseca à nossa vocação franciscana (cf PdE 12). Nenhuma barreira pode deter aquele que foi tocado pelo dinamismo do Evangelho.
Esse contínuo esforço para atravessar fronteiras
nos permitirá habitar as fissuras de um mundo fragmentado, caracterizado muitas vezes pelas “discriminações, pelas exclusões e, em casos extremos, pela violência física, psíquica e ideológica” (PdE 22). A encarnação, especialmente entre as pessoas menos afortunadas. A partir da nossa identidade franciscana, reconhecemos a urgência de “deixar-nos seduzir pelos claustros esquecidos e desumanos, onde a beleza e a dignidade da pessoa são continuamente ofuscadas” (Sdp 37), a necessidade de descobrir com maior decisão “lugares de fronteira e marginalidade” (O Senhor fala-nos no caminho=Sfc 33), e nesses, segundo a lógica do dom e do serviço gratuito, com criatividade e fantasia, restituir o dom do Evangelho aos pobres, nossos mestres (cf. João Paulo II Mensagem 8/2/2004). Com esses princípios, e tendo presente os desafios que encontramos pela frente, é que somos chamados a encaminhar uma séria revisão da nossa missão evangelizadora, e ensaiar, com lucidez e audácia, caminhos inéditos de presença e testemunho (cf. Sfc 33.35).
Devemos reconhecer que o ardor missionário diminuiu entre nós nesses últimos anos. Igualmente é notável o fato de que em alguns frades e Entidades o imobilismo ameaça paralisar o dinamismo evangelizador. Em tudo isso não é secundário o peso de certas estruturas que nos impedem de sentir-nos livres no momento de partir para outras terras, ou no momento de iniciar novas presenças evangelizadoras mais em sintonia com as exigências de hoje. Com razão o Capítulo de 2009 nos convidava a descentrar-nos de nós mesmos, segundo o exemplo de Jesus Cristo (cf. Fl 2,6-7), para sermos menos auto-referenciais, para preocupar-nos menos com a nossa própria sobrevivência, para superar a mentalidade provincialista e para crescer no senso de pertença à Ordem (cf. PdE 14.31). Estou sempre mais convicto sobre a necessidade do redimensionamento das presenças se queremos que as nossas Fraternidades sejam verdadeiramente Fraternidades-sinal, Fraternidades proféticas, e se queremos responder à nossa vocação missionária ad gentes, assim como a uma formação adequada, inicial e permanente, em perspectiva de missão evangelizadora. Torna-se, portanto, sempre mais necessária a docilidade ao Espírito, que sopra onde e quando quer, e nos impulsiona à missão, a sair ao encontro do outro para comunicar-lhe a Boa Nova. É urgente uma leitura atenta dos sinais dos tempos e dos lugares e deixar-nos interpelar por eles para encarnar-nos de fato e eficazmente na realidade sócio-cultural dos nossos povos e da nossa sociedade. Acima de tudo torna-se necessário cultivar uma fé e uma espiritualidade trinitárias.
Neste contexto devemos ser auto-críticos
e perguntar-nos, como nos pede o Capítulo de 2009, “se o imobilismo e a instalação que ameaçam paralisar o uma crise de fé que atinge alguns de nós” (PdE 12). Só o Deus uno e trino nos conduz para fora de nós mesmos em direcção ao encontro com o outro, com o diverso de nós (cf. Sfc 22). Não nos falta, por acaso, uma autêntica experiência de Deus? Somente “uma autêntica experiência de Deus, de facto, nos põe em movimento, porque não é possível sentir o abraço infinito de um Deus loucamente enamorado, porque é amor e só amor, sem sentir ao mesmo tempo a necessidade urgente de partilhar esta experiência com os outros” (PdE 11). Não será que estamos demais centrados sobre nós mesmos e não nos deixamos interpelar pelos fenómenos como a inter-culturalidade, a reivindicação e a defesa dos direitos humanos, a crise económica, o desastre ambiental, e a pobreza espiritual e material que nos circunda? (cf PdE 14) Não será que estamos de costas para o devir do mundo, quando a nossa missão é exactamente a de acompanhar o nosso mundo, não como quem tem respostas para tudo, mas como mendicantes de sentido junto com os nossos contemporâneos? (cf. PdE 29, Sfc 6)
É Natal
Caros irmãos: é Natal. Fomos agraciados com um dom, o dom por excelência que provém do amor do Pai pela humanidade: “seu Filho bendito e glorioso que nos foi dado e que por nós nasceu” (2Fi 11). Esta é a Boa Nova que recebemos como dom e da qual não somos proprietários e, portanto, devemos restituir: “o Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (2Cel 15). O pai e irmão Francisco viu o Natal como um dom a ser restituído.
Levantai-vos, caminhai!
Sinto, caros irmãos, que o Senhor nos diz, ou mais ainda, nos grita: Levantai-vos, ponde-vos em caminho! Curai as feridas do vosso mundo, acompanhando, nos lugares de fractura, os vossos irmãos e irmãs em um projecto comum de paz e justiça, enraizado no Evangelho; e, segundo o exemplo do Filho de Deus, despojai-vos, assumi a condição dos homens e das mulheres do vosso tempo (cf. Fl 2,6-7), e, como o Apóstolo Paulo, fazei-vos tudo para todos, fazei tudo pelo Evangelho (cf. 1Cor 9,22-23).
Levantai-vos, caminhai! Cuidai da qualidade evangélica da vossa vida fraterna, na qual a vida de oração seja vivida como clara prioridade, se torne possível expressar e celebrar a alegria da vossa vocação e da vossa experiência de fé, haja um acompanhamento materno de uns com os outros, e onde os irmãos mantenham uma permanente atitude de discernimento.
Levantai-vos, caminhai!
Acolhei o Evangelho
na vossa vida, deixai-vos habitar por ele, e será o próprio Evangelho a mudar as vossas vidas, como mudou aquela de Francisco, transformando-vos em evangelho vivo (cf. PdE 5). Nutri-vos quotidianamente do Evangelho, para que a sede saciada se transforme em mensagem, como no caso da Samaritana (cf. Spc 17). Ide pelo mundo, em Fraternidade e a partir da Fraternidade, sempre em comunhão com a Igreja, e anunciai a todos que Jesus, Evangelho do Pai para a humanidade, manifestação do Deus amor, é nosso irmão, o Salvador da humanidade.
Levantai-vos, caminhai!
FELIZ NATAL A TODOS!
Roma, 8 de Dezembro de 2009,
Solenidade da Imaculada Conceição,

Rainha e Mãe da OFM
Prot. 100409
fr. José Rodríguez Carballo, ofm
Ministro Geral

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Fraternidade e Comunhão monástica
Para fazer a verdadeira fraternidade e da verdadeira comunhão cristã é indispensável acreditar no amor: “Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele” (1Jo 4, 16). Isto é a coisa mais importante, porque quem não acreditar no amor não faz vida cristã e é seriamente ameaçado no seu caminho de humanização.
Sucede na comunidade o descentrar-se, ou seja o encontrar o centro não em si mesmo, mas no Senhor e consequentemente o não querer estar ao centro da comunidade, deixando sempre Cristo no centro da nossa vida. Recordamos aqui a lição que Jesus deu à sua comunidade, quando se perguntavam quem deveria estar ao centro, Jesus colocou no centro, no meio, uma criança: “E, tomando um menino, colocou-o no meio deles…” (Mc 9, 36). É necessário acolher o outro, decidindo amá-lo mesmo antes de o conhecer. Aqui não encontram lugar, nem simpatias, nem antipatias, nem afinidades, porque nada pode ser anteposto ao amor de Cristo. O irmão é um dom de Deus, não o escolhemos mas devemos aceitá-lo como dom, só lhe podemos pedir de poder viver o Evangelho, como ele no-lo pode pedir a nós.
cf. frei Enzo Bianchi, da Homilia na Vigília da Transfiguração de 2009
(tradução do Italiano ao Português da responsabilidade do autor deste blog)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ó Maria, Virgem Imaculada! (...) Saudamos-te e invocamos-te com as palavras do Anjo: "cheia de graça" (Lc 1, 28), o nome mais bonito, com o qual o próprio Deus te chamou desde a eternidade.
"Cheia de graça" és tu, Maria, repleta do amor divino desde o primeiro momento da tua existência, providencialmente predestinada para ser a Mãe do Redentor, e intimamente associada a Ele no mistério da salvação. Na tua Imaculada Conceição resplandece a vocação dos discípulos de Cristo, chamados a tornar-se, com a sua graça, santos e imaculados no amor (cf. Ef 1, 14). Em ti brilha a dignidade de cada ser humano, que é sempre precioso aos olhos do Criador. Quem para ti dirige o olhar, ó Mãe Toda Santa, não perde a serenidade, por muito difíceis que sejam as provas da vida. Mesmo se é triste a experiência do pecado, que deturpa a dignidade dos filhos de Deus, quem a ti recorre redescobre a beleza da verdade e do amor, e reencontra o caminho que conduz à casa do Pai.
"Cheia de graça" és tu, Maria, que aceitando com o teu "sim" os projectos do Criador, nos abristes o caminho da salvação. Na tua escola, ensina-nos a pronunciar também nós o nosso "sim" à vontade do Senhor. Um "sim" que se une ao teu "sim" sem reservas e sem sombras, do qual o Pai celeste quis precisar para gerar o Homem novo, Cristo, único Salvador do mundo e da história.
Dá-nos a coragem de dizer "não" aos enganos do poder, do dinheiro, do prazer; aos lucros desonestos, à corrupção e à hipocrisia, ao egoísmo e à violência. "Não" ao Maligno, príncipe enganador deste mundo. "Sim" a Cristo, que destrói o poder do mal com a omnipotência do amor.
Nós sabemos que só corações convertidos ao Amor, que é Deus, podem construir um futuro para todos.
"Cheia de graça" és tu, Maria! O teu nome é para todas as gerações penhor de esperança certa. Sim! Porque, (...), Tu "és fonte viva de esperança" (Par., XXXIII, 12). A esta fonte, à nascente do teu Coração imaculado, voltamos mais uma vez peregrinos confiantes para haurir fé e conforto, alegria e amor, segurança e paz
Virgem "cheia de graça", mostra-te terna e solícita aos habitantes desta tua cidade, para que o autêntico espírito evangélico anime e oriente os seus comportamentos; mostra-te Mãe e vigilante guarda (...) da Europa, para que das antigas raízes cristãs os povos saibam tirar nova linfa para construir o seu presente e o seu futuro; mostra-te Mãe providente e misericordiosa do mundo inteiro, para que, no respeito da dignidade humana e no repúdio de qualquer forma de violência e de exploração, sejam lançadas as bases firmes para a civilização do amor. Mostra-te Mãe especialmente de quantos têm mais necessidade: os indefesos, os marginalizados e os excluídos, as vítimas de uma sociedade que com muita frequência sacrifica o homem a outras finalidades e interesses.
Mostra-te Mãe de todos, ó Maria, e dá-nos Cristo, a esperança do mundo! "Monstra Te esse Matrem", ó Virgem Imaculada, cheia de Graça! Amém!
Bento XVI
Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria
Praça de Espanha, Sexta-feira, 8 de Dezembro de 2006

sábado, 5 de dezembro de 2009

...escolhidos por Deus
para a vida consagrada...
Queridos irmãos e irmãs, ... neste nosso tempo difunde-se, sobretudo entre os jovens, a necessidade de encontrar Deus. Quantos são escolhidos por Deus para a vida consagrada realizam precisamente de modo definitivo este anseio espiritual. De facto, habita neles uma só expectativa, a do Reino de Deus: que Deus reine nas nossas vontades, nos nossos corações, no mundo. Neles arde uma única sede de amor, que só o Eterno pode satisfazer.
Escolhendo a obediência, a pobreza e a castidade pelo Reino dos céus, mostrando que cada afeição e amor às coisas e às pessoas é incapaz de saciar definitivamente o coração; que a existência terrena é uma expectativa mais ou menos longa do encontro "face a face" com o Esposo divino, expectativa que se deve viver com o coração sempre vigilante para estarmos prontos a reconhecê-lo e a acolhê-lo quando ele vier.
..., por sua natureza a vida consagrada constitui uma resposta a Deus total e definitiva, incondicionada e apaixonada (cf. Vita consecrata, 17). E quando se renuncia a tudo para seguir Cristo, quando se lhe dá o que se possui de mais precioso enfrentando qualquer sacrifício, então, como aconteceu para o Mestre divino, também a pessoa consagrada que segue os seus passos se torna necessariamente "sinal de contradição", porque o seu modo de pensar e de viver muitas vezes está em contraste com a lógica do mundo, ... . Escolhe-se Cristo, aliás, deixamo-nos "conquistar" por Ele sem reservas.
Queridos irmãos e irmãs, nunca vos esqueçais de que a vida consagrada é dom divino, e que em primeiro lugar é o Senhor que a guia a bom termo segundo os seus projectos. Esta certeza de que o Senhor nos conduz a bom fim, apesar das nossas debilidades; esta certeza deve servir de conforto, preservando-vos da tentação do desencorajamento diante das inevitáveis dificuldades da vida e dos numerosos desafios da época moderna.
... Cristo, verdadeira luz do mundo, que resplandece na noite da história e que ilumina todo aquele que procura a verdade. Queridos consagrados e consagradas, ardei nesta chama e fazei-a resplandecer com a vossa vida, para que, em toda a parte, brilhe um raio da luz irradiada por Jesus, esplendor de verdade.
Dedicando-vos exclusivamente a Ele (cf. Vita consecrata, 15), testemunhais o fascínio da verdade de Cristo e a alegria que brota do amor por Ele. ..., estai prontos para proclamar e testemunhar que Deus é Amor, como é agradável amá-lo. Maria, a Tota pulchra, vos ensine a transmitir aos homens e às mulheres de hoje este fascínio divino, que deve transparecer das vossas palavras e das vossas acções.
Bento XVI, "Discurso na Festa da Apresentação do Senhor
e Dia Mundial da Vida Consagrada (2.2.2007)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Maria é Virgem e é Mãe.
É Mãe do seu Filho
e, por Ele, Mãe da humanidade.
Ela é como o fontanário público,
onde toda a gente pode ir beber:
cheia de maternidade para com as almas,
porque é a viva, puríssima
e incandescente imagem de Deus
que É Amor;

ela é como a encarnação do amor
ou os braços da Providência celeste
estendidos para a humanidade,

para a servir, para lhe enxugar as lágrimas,
para cicatrizar as feridas,
para lhe indicar o Eterno.
Chiara Lubich,
"Meditações"
, Editora Cidade Nova, Abrigada, 2005, pág. 128

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Quando se ama,
deseja-se falar sem cessar à pessoa amada,
ou pelo menos olhá-la sempre,
a oração não é senão isso:
a conversação familiar com o Bem Amado.
Olha-se para Ele,
dizendo que Ele é amado,
goza-se de estar a seus pés,
dizendo que se deseja aí viver
e aí morrer.
Beato Carlos de Foucauld