quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Santo António
de Sant'Anna Galvão

Sacerdote franciscano

fundador do Mosteiro da Luz (São Paulo)

da Ordem da Imaculada Conceição

Frei António de Sant'Anna Galvão nasceu em 1739, em Guaratinguetá, São Paulo (Brasil). O ambiente familiar era profundamente religioso. O pai, António Galvão de França, era imigrante português e Capitão-mor da cidade. Sua mãe, Isabel Leite de Barros, era filha de fazendeiros, bisneta do famoso bandeirante Fernão Dias Pais, o "caçador de esmeraldas".
António viveu com seus irmãos numa casa grande e rica, pois seus pais gozavam de prestígio social e influência política. O pai, querendo dar uma formação humana e cultural segundo suas possibilidades económicas, mandou o filho com a idade de 13 anos para o Colégio de Belém, dos padres jesuítas, na Bahia, onde já se encontrava seu irmão José. Lá fez grandes progressos nos estudos e na prática cristã, de 1752 a 1756.
Queria tornar-se jesuíta, mas por causa da perseguição movida contra os jesuítas pelo Marquês de Pombal, seu pai o aconselhou a entrar para os franciscanos, que tinham um convento em Taubaté, não muito longe de Guaratinguetá.
Assim, renunciou a um futuro promissor e influente na sociedade de então, e aos 21 anos, entrou para o noviciado na Vila de Macacu, no Rio de Janeiro. Lá distinguia-se pela piedade e virtudes. A 16 de Abril de 1761 fez seus votos solenes. Um ano após foi admitido à ordenação sacerdotal, pois julgaram seus estudos suficientes. Este privilégio mostra a confiança que nutriam pelo jovem clérigo. Foi então mandado para o Convento de São Francisco em São Paulo a fim de aperfeiçoar os seus estudos de filosofia e teologia, e exercitar-se no apostolado. Data dessa época a sua "entrega a Maria", como seu "filho e escravo perpétuo", consagração mariana assinada com seu próprio sangue a 9 de Novembro de 1766.
Terminados os estudos foi nomeado Pregador, Confessor dos Leigos e Porteiro do Convento, cargo este considerado de muita importância, pela comunicação com as pessoas e o grande apostolado resultante. Foi confessor estimado e procurado e, muitas vezes, quando era chamado ia sempre a pé mesmo nos lugares mais distantes.
Em 1769-70 foi designado Confessor de um Recolhimento de piedosas mulheres, as "Recolhidas de Santa Teresa", em São Paulo. Neste Recolhimento encontrou Irmã Helena Maria do Espírito Santo, religiosa de profunda oração e grande penitência que afirmava ter visões pelas quais Jesus lhe pedia para fundar um novo Recolhimento. Frei Galvão, ouvindo também o parecer de pessoas sábias e esclarecidas, considerou válidas essas visões.
No dia 2 de Fevereiro de 1774 foi oficialmente fundado o novo Recolhimento, com hábito, regra, constituições, tradições e maneira de Rezar da Ordem da Imaculada Conceição, fundada por Santa Beatriz da Silva.
Em 23 de Fevereiro de 1775, um ano após a fundação, Madre Helena morreu improvisamente. Frei Galvão tornou-se o único sustentáculo das Recolhidas, missão que exerceu com humildade e grande prudência. Enquanto isso o novo Capitão-general de São Paulo, homem inflexível e duro, retirou a permissão e ordenou o fechamento do Recolhimento. Fazia isso para opor-se ao seu predecessor, que havia promovido a fundação. Frei Galvão aceitou com fé e também as recolhidas obedeceram, mas não deixaram a casa e resistiram até os extremos das forças físicas. Depois de um mês, graças a pressão do povo e do Bispo, o recolhimento foi aberto.
Devido ao grande número de vocações, o Servo de Deus se viu obrigado a aumentar o recolhimento. Durante 14 anos cuidou dessa nova construção (1774-1788) e outros 14 para a construção da igreja (1788-1802), inaugurada a 15 de Agosto de 1802. Frei Galvão foi arquitecto, mestre de obras e até pedreiro!
Frei Galvão, além da construção e dos encargos especiais dentro e fora da Ordem Franciscana, deu toda a atenção e o melhor de suas forças à formação das Recolhidas. Era para elas verdadeiro pai e mestre. Para elas escreveu um estatuto, excelente guia de vida interior e de disciplina religiosa. Esse é o principal escrito de Frei Galvão, e que melhor manifesta a sua personalidade.
Frei Galvão era considerado santo já em vida e a cidade fez dele o seu prisioneiro. Em várias ocasiões as exigências da sua Ordem Religiosa pediam que se mudasse para outro lugar para realizar outras funções, mas tanto o povo e as Recolhidas, como o bispo, e mesmo a Câmara Municipal de São Paulo intervieram para que ele não saísse da cidade. Diz uma carta do "Senado da Câmara de São Paulo" ao Provincial (superior) de Frei Galvão: "Este homem tão necessário às religiosas da Luz, é preciosíssimo a toda esta Cidade e Vilas da Capitania de São Paulo, é homem religiosíssimo e de prudente conselho; todos acorrem a pedir-lho; é homem da paz e da caridade".
Frei Galvão viajava constantemente pela Capitania de São Paulo, pregando e atendendo as pessoas. Fazia todos esses trajectos sempre a pé, não usava cavalos nem a 'cadeirinha' levada por escravos, o que era absolutamente normal para aquele tempo. Vilas distantes 60 km ou mais, cidades do litoral, ou mesmo viajando para o Rio de Janeiro, enfim, não havia obstáculos para o seu zelo apostólico. Por onde passava as multidões acorriam. Ele era alto e forte, de trato muito amável, recebendo a todos com grande caridade.
Frei Galvão era homem de muita e intensa oração, e dele se atestam certos fenómenos místicos, como os êxtases e a levitação. São famosos em sua vida os casos de bilocação: estando em determinado lugar, aparecia em outro, improvisamente, para atender um doente ou moribundo que precisava da sua atenção. Era também procurado para a cura, em tempos em que não havia recursos e ciência médica como hoje.
Em 1811, a pedido do bispo de São Paulo, Frei Galvão fundou o Recolhimento de Santa Clara em Sorocaba, São Paulo, onde permaneceu por 11 meses para encaminhar a nova fundação e comunidade. Posteriormente, após a sua morte, outros mosteiros foram fundados por essas duas comunidades, seguindo assim, a orientação deixada pelo Beato.
Faleceu em 23 de Dezembro de 1822 e a pedido do povo e das irmãs foi sepultado na igreja do Recolhimento da Luz, que ele mesmo construíra.
Foi beatificado em 25 de Outubro de 1998 pelo papa João Paulo II e Bento XVI canonizou-o em 2007.

(fonte: cf.
Santos do Brasil.org)

Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz
Avenida Tiradentes, 676 - Bairro da Luz
01102-000 São Paulo SP

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Beato
Libério González Nombela
,

presbítero e mártir
Capelão do Mosteiro
da Imaculada Conceição de Torrijos

Nasceu em Santa Ana de Pusa (Toledo/Espanha) a 30 de Dezembro de 1895.
Excelente estudante, obteve o doutoramento em Sagrada Teologia. Recebeu a ordenação sacerdotal a 21 de Dezembro de 1918.
Os seus primeiros destinos foram como coadjutor, em Mora de Toledo (1919) e, no ano seguinte, em Bargas; capelão das monjas da Companhia de Maria e professor do Seminário Menor de Talavera de la Reina, em 1920-1921. Em 1922 passou a Toledo como coadjutor da paróquia de Santiago Apóstolo. Dois anos depois, ecónomo da paróquia dos Santos Justo e Pastor. Finalmente chegou a Torrijos em 1925, para se tornar pároco a 26 de Abril de 1926. Foi nomeado pároco da Colegiada do Santíssimo Sacramento de Torrijos (Toledo), fundada pela Serva de Deus Teresa Enríquez e capelão do Mosteiro da Imaculada Conceição também de Torrijos (o 2º da Ordem) cuja fundação se deve iniciativa da anteriormente referida Serva de Deus.
O que na paróquia de Torrijos trabalhou, dificilmente o poderá enumerar alguém. Fundou mil obras de piedade, de zelo e de caridade. Todas as actividades apostólicas ele acompanhava e acolhia: Adoração Nocturna, Acção Católica, nos seus diversos ramos, as Filhas de Maria, Pais de Família, catequese, escolas dominicais, Conferências de São Vicente de Paulo, socorro dos pobres, Apostolado de Oração, escolas nocturnas de operários e, sobretudo, as escolas católicas para se opor ao ensino laico, hostil à doutrina da Igreja.
No dia 5 de Março de 1936, depois das fatídicas eleições do mês anterior, que tinham dado o triunfo às forças revolucionárias, a turba torrijana manifestou-se publicamente pedindo aos gritos a expulsão do pároco e procuraram-no com diabólica intenção. Ele escondeu-se, prudentemente aconselhado, no hospital do Santíssimo Cristo. Ali passou a última noite de vida na sua paróquia, ao fim de onze anos de trabalho heróico. No dia seguinte, 6 de Março, acompanhado pelo seu irmão João, abandonou a paróquia e refugiou-se em Santa Ana de Pusa, na casa de seus pais. Ante a impossibilidade de voltar a Torrijos, a 5 de Maio de mesmo ano 1936, o cardeal de Toledo nomeou-o pároco de Los Navalmorales. Dois meses mais tarde, a 23 de Julho do mesmo ano, as autoridades locais fecharam a Igreja e proibiram todo o tipo de culto.
O Servo de Deus não teve outro remédio que refugiar-se de novo em casa de seus pais, que viviam em Santa Ana de Pusa, a 8 km de distância. Fez o caminho vestido de batina e a pé, no entanto quando chegou, a turba esperava-o para prendê-lo. Era as três da tarde do 18 de Agosto de 1936. Fui detido e conduzido ao edifício da Câmara Municipal. No caminho mandaram parar o camião e fizeram-no descer pondo-o junto a um poste de telefone, propositadamente dispararam várias vezes sem o atingir, como simulando um fuzilamento. O condutor do camião declarou que, enquanto interrogaram na Câmara de Torrijos ao Padre Libério, mandaram-no a ele e ao seu cunhado com dez milicianos a fuzilar o pároco de Santa Ana de Pusa, o Servo de Deus João Francisco Fernández, que também tinham preso. Entretanto, uma tumultuosa manifestação, como se fosse uma romaria, levava o Padre Libério ao martírio. Subiram-no de novo para o camião. Chegados ao cruzamento de Barcience, mandaram-no descer e obrigaram-no a caminhar. Quando já lhe estavam apontando os fusiles, disse em voz alta: “Deus perdoar-vos-á”. Soou uma descarga cerrada de muitos, mais de cem tiros, e ficou imediatamente morto.
Foi beatificado, em Roma, a 28 de Outubro de 2007, por Sua Eminência o Sr. D. José Saraiva Martins, delegado do Santo Padre, no grupo dos 498 Mártires da Guerra Civil de Espanha.
Oração
Oh Deus, que embelezastes a Vossa Igreja com o sangue derramado dos Beatos Libério e companheiros mártires, concede-nos por sua intercessão a graça que agora Vos suplicamos (pede-se a graça) e, sobre tudo, que o exemplo do seu martírio nos abrase do Vosso Amor, nos mova a viver em verdade a vida cristã e a desejar morrer professando o Vosso Nome. Por Jesus Cristo, Nosso Senhor que é Deus Convosco na unidade do Espírito Santo. Ámen.

Monasterio de la Inmaculdada Concepción

C/ Ntra. Sra. Del Rosario, 24-45500 TORRIJOS
(Toledo) España
Email: concep-torrijos@telefonica.net
Serva de Deus
Teresa Enríquez, leiga
“a louca do Sacramento”
fundadora do 2º Mosteiro da Ordem da Imaculada Conceição
Teresa Enriquez nasceu em Valladolid (Espanha) em 1450. Era, portanto, da mesma idade que a rainha Isabel “a Católica”, e prima irmã do rei D. Fernando. Ficou órfã de mãe ao nascer e seu pai, D. Afonso Enriquez, almirante-mor de Castela, entregou a menina à tutela de sua avó, Dª Teresa de Quiñones. Sob a sua responsabilidade, Teresinha foi educada em todo o tipo de virtudes.
Teresa esteve sempre muito unida a Isabel “a Católica”, quer pela sua dedicação à Caridade e à religião, quer por estar casada com um dos homens mais próximo dos reis Católicos (Fernando e Isabel) em todos os negócios de maior importância. Don Gutierre de Cárdenas era Contador Mayor dos Reis Católicos. Teresa era sempre companheira incondicional e colaboradora de Isabel. Destacamos o seu trabalho no longo assédio à cidade de Granada, onde trabalhou como enfermeira carinhosa no Hospital de Sangue de Santa Fé, instalado pela reina. Ali acudia solícita, para todos os serviços mais repugnantes, cuidando e curando os soldados, levando-lhes roupas, ligaduras e alimentos como a mais carinhosa das mães.
Enquanto viveu o seu marido, Teresa devia acompanhá-lo participando inclusivamente nas festas da corte. Contudo, mesmo nestes casos, quando por razão do seu estado tinha que acompanhar o seu esposo elegante e cheia de jóias, dirigia-se ao seu Cristo amado, orando no seu interior com aquelas palavras que chegaram até nós: «Tu bem sabes, Senhor, que estes arreios a mim nunca me seduziram».
Ao morrer Don Gutierre em 1503, Teresa dá um adeus a todo o que é deste mundo e retira-se para a sua Vila de Torrijos, para dar boa conta de todos os seus bens a Deus, repartindo-os em múltiplas obras de caridade, dando-se ela mesma, em primeiro lugar, desprendida de todo o luxo, vestindo e vivendo como pobre, com um hábito de estamenha negra.
Teresa fundou dois hospitais, dotou largamente a raparigas que se davam à má vida para que se casassem dignamente, e também às órfãs em perigo. Em anos de seca e más colheitas, a todos os trabalhadores que quisessem, ela dava-lhe pasto para os animais. Também dava semente e até juntas de bois aos que no os tinham. Tudo isto em troca de rendas simbólicas que Teresa repartia pelos seus pobres.
Tendo tomado conhecimento do heroísmo de caridade do sacerdote sevilhano Fernando de Contreras, chamou-o a Torrijos para assumir a direcção de um Colégio para órfãos, que ela fundou, os quais vestia e alimentava e atendia ela mesma, dirigidos por este sacerdote, vinte anos mais novo que ela, que foi seu grande conselheiro e colaborador nos últimos anos da sua vida.
Quando ainda não existiam os Seminários, Teresa fundou em Torrijos um Colégio chamado de Moços de Coro, porque, ao mesmo tempo que realizavam os seus estudos, encarregavam-se dos louvores divinos, que era a maior alegria e desejo desta alma grande. Aqui fundo as célebres Confrarias do Santíssimo Sacramento, que se estenderam, graças ao seu zelo, por toda Europa e até pela América. A sua finalidade destinava-se a promover e valorizar tudo o que desse maior esplendor ao se culto divino e à atenção aos sacrários abandonados. Segundo a tradição, com as próprias mãos espremia as uvas para que se fizesse o vinho a usar na Santa Missa. Por todas partes, tanto em Espanha como no estrangeiro, tinha uma espécie de detectives que a informavam de como era venerada a Eucaristia. Este culto de amor quis perpetuá-lo fundando mosteiros e conventos para que nunca faltasse o louvor divino. Ela mesma, abrasada no amor da Eucaristia (o Papa Júlio II chamava-a a louca do Sacramento) passava horas e horas diante do Sacrário numa tribuna aonde chegava através de um passadiço que mandou construir desde o seu palácio até à Colegiata do Corpus Christi.
Estimava as almas contemplativas, e através da reina Isabel conheceu e conviveu de muito perto com Santa Beatriz da Silva e sua Ordem da Imaculada Conceição. A santa morreu, contudo Teresa continuou favorecendo as suas filhas. Foi ela a responsável da fundação do segundo Mosteiro da Ordem da Imaculada Conceição, fundada por Santa Beatriz da Silva, o de Torrijos (1507).

O seu corpo, depois de 470 anos da sua morte, conserva-se incorrupto no mosteiro das Concepcionistas (monjas da Ordem da Imaculada Conceição) de Torrijos.
A sua causa de beatificação e canonização iniciou-se em Toledo no ano 2001 e a clausura do processo diocesano deu-se em Torrijos a 30 de Novembro de 2002. Os cardiais já aprovaram o processo diocesano. Com este passo já se pode continuar a trabalhar na redacção da “Positio”, a cuja aprovação seguirá a declaração de virtudes heróicas e o título de Venerável.
Oração
Jesus Sacramentado que quiseste ficar connosco até à consumação dos tempos, pelos méritos da Vossa serva Teresa Enríquez, que pelo seu profundo amor à Eucaristia, mereceu ser designada pelo Papa Júlio II com o sobrenome de “Louca do Sacramento”, nós vos pedimos que nos concedais uma maior correspondência ao Vosso Amor, um maior crescimento do culto, adoração e amor à Eucaristia em todo o mundo e a graça especial que Vos pedimos (enunciar a graça pretendida).
Monasterio de la Inmaculdada Concepción
C/ Ntra. Sra. Del Rosario, 24-45500 TORRIJOS
(Toledo) España
Email: concep-torrijos@telefonica.net
(texto da cronista do Mosteiro Concepcionista da Imaculada Conceição de Torrijos, traduzido e adaptado para Português pelo P. Marcelino José Moreno Caldeira)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Encontro e renovação...
Se o contemplativo se retira do mundo, não é porque deserte dele ou dos seus irmãos: permanece enraizado com todo o seu ser na terra em que nasceu, cujas riquezas herdou e cujas preocupações e aspirações tentou assumir. É para recolher-se mais intensamente na Fonte Divina, onde se originam as forças que impulsionam o mundo e para compreender a esta luz os grandes desígnios do homem. Com efeito, é no deserto onde, com frequência, é acolhida pela alma a inspirações mais altas. É ali onde Deus moldou o seu povo, ali onde, depois da sua falta, o conduziu “para seduzi-lo e falar-lhe ao coração” (Os 2, 16). É também ali onde o Senhor Jesus, depois de ter vencido o diabo, manifestou todo o seu poder e preludiou a sua vitória de Páscoa.
Não é precisamente de uma experiência análoga que deve renascer e renovar-se em cada geração o povo de Deus? O contemplativo que por vocação se retirou a este deserto espiritual, tem a impressão de se ter estabelecido nas fontes da própria Igreja: não lhe parece que a sua experiência seja exotérica, mas sim típica de toda a experiência cristã. Sabe reconhecer-se nas provas e tentações que assaltam os cristãos. Compreende estas penas e discerne o seu sentido. Conhece toda a amargura e angústia da noite escura: “Meu Deus, meu Deus, porquê me abandonaste?” (Sl 21,2; cf. Mt 27,46); no entanto, também sabe, pela história de Cristo, que Deus vence a morte.
(intervenção de um monge no Sínodo dos Bispos de 1967)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Gratuidade e Amor...
A raiz da vida monástica encontra-se,
mais ou menos explícita,
na consciência do amor incompreensível
com que Deus nos ama gratuitamente.
Para responder a este amor, o monge consagra a sua vida a Deus,
não como uma simples perca mas como pura gratuidade.
Quer estar com Deus, permanecer e conversar com Ele
no segredo e silêncio de uma presença íntima e contínua,
que é a forma primeira e fundamental do amor.
Crê que Deus merece ser procurado, servido, adorado e amado
por Ele mesmo, gratuitamente.
Não o inquieta a fecundidade espiritual ou apostólica,
porque está convencido que essa fecundidade é fruto do amor,
o qual não se encontra no plano das palavras ou da acção,
nem sequer no da oração,
mas sim no plano do ser.
A vida monástica é na Igreja e no mundo
um testemunho da gratuidade e do amor.

A. Southey

domingo, 17 de agosto de 2008

Da Homilia de Paulo VI
na canonização de Stª Beatriz da Silva
... a elequência mais evidente da vida
Da nova Santa não nos é possível tecer o breve elogio que se costuma fazer no momento de uma canonização e que parece projectar perante os nossos olhos radiantes os traços de um rosto glorioso porque, assim como o rosto extraordinário, belo e puro de Beatriz da Silva permaneceu velado por longos anos da sua vida terrena, até à sua bem-aventurada morte, assim também muitos aspectos da sua biografia só chegaram até nós por reflexos, como PER SPECULUM IN AENIGMATE - através de um espelho e de modo confuso - (cf. 1 Cor 13, 12), na documentação histórica através da qual ela transparece como figura inocente, humilde e luminosa, apesar de não conceder à nossa humana mas legítima curiosidade sinal algum de expressão pessoal. Assomam aos lábios as palavras de Dante: OV'E BEATRIC - onde estás Beatriz? - (A Divina Comédia, Paraíso, canto 32, verso 85); ou as palavras bíblicas em que vibra o amor místico: MINHA POMBA ... MOSTRA-ME O TEU ROSTO, FAZ-ME OUVIR A TUA VOZ, PORQUE A TUA VOZ É SUAVE E GRACIOSO O TEU ROSTO (Ct 2, 14).
Porque efectivamente, nenhuma palavra desta Santa chegou até nós nas suas sílabas textuais, e por conseguinte, nenhum eco da sua voz; nem escrito algum da sua mão, ou algum retrato do seu rosto demasiado belo, como se dizia, para que não fosse, na sua juventude, causa de turbação. E nem sequer os estatutos definitivos da Regra para a família religiosa que Ela fundou, inaugurando com a sua própria morte o nascimento da mesma família.
Mas, então, uma pergunta surge no espírito de quem dirige a atenção e a devoção para esta cidade do céu: será uma lenda a sua vida? Será fruto de um mito? Não, não é! Beatriz da Silva antes de entrar no reino eterno do céu, foi cidadã da terra: e o seu registo, e mais ainda a sua obra de Fundadora de uma nova e ainda hoje florescentíssima Família Religiosa, a das Monjas da Santíssima Conceição de Maria, não deixam dúvida alguma, antes conferem certeza particular e edificante exemplaridade à história hagiográfica desta esplêndida figura.
Santa Beatriz da Silva, portuguesa de nascimento, passou a maior parte da sua existência terrena em terras de Espanha, Mulher que ao nosso coração de crentes fala, se não com os escritos, sim com a eloquência mais convincente da vida.
(da Homilia de Paulo VI, proferida na Canonização de Santa Beatriz da Silva a 3 de Outubro de 1976, na Basílica Vaticana de São Pedro)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Assunção da Virgem Stª Maria
Era necessário...
Era necessário que Aquela que no parto tinha conservado ilesa a sua virgindade conservasse também sem nenhuma corrupção o seu corpo depois da morte.
Era necessário que Aquela que trouxera no seio o Criador feito menino fosse habitar nos divinos tabernáculos.
Era necessário que a Esposa que o Pai desposara fosse morar com o Esposo celeste.
Era necessário que Aquela que tinha visto o seu Filho na cruz e recebera no coração a espada de dor de que tinha sido preservada ao dá l’O à luz, O contemplasse sentado à direita do Pai.
Era necessário que a Mãe de Deus possuísse o que pertence ao Filho e que todas as criaturas a honrassem como Mãe e Serva de Deus.
São João Damasceno

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Venerável
soror Custódia Maria do Sacramento oic
virgem e monja Portuguesa
da Ordem da Imaculada Conceição,
1706-1739
Foi filha do Sr. Manuel Ribeiro Veiga e da Srª Dª Catarina Couto, sua mulher, moradores na Quinta da Veiga de Penzo, periferia da cidade de Braga. Nasceu a 17 de Junho de 1706 e foi baptizada ao fim de três dias pelo seu tio materno, o Padre João de Couto, Reitor de Ronfe. No baptismo recebeu o nome de Custódia.
De família ilustre e aparentada com as nobres famílias dos Sousas, Abreus, Magalhães e Vasconcelos, Custódia era a mais nova dos oito filhos de Manuel e Catarina.
Infância e Juventude
Com a idade de quatro a cinco anos, saia às escondidas de casa e ia rezar para a Igreja. Sua mãe encontrou-a várias vezes na Igreja, de joelhos, rezando diante do altar, sendo evidentes no seu rosto infantil sinais de profunda contemplação. Gratos seriam a Deus os colóquios daquele coração angelical.
Todos os anos em Quinta-feira Santa passava toda a noite em oração diante do Santíssimo Sacramento.
Não se limitava a rezar. Ia conhecendo na oração qual era a Vontade de Deus e o seu coração compassivo não lhe permitia ver necessidades alheias sem fazer alguma coisa para as remediar. Assim, desde menina, a todos os pobres que batiam à porta de sua casa não só lhes dava de comer, como lhes procurava arranjas roupa e sapatos e com o coração em festa os dava aos pobres reconhecendo neles a presença de Jesus.
Conciliava sábia e ordenadamente a oração e o trabalho. Vestia-se de forma muito simples e ocupava-se, sem necessidade pois em casa de seu pai havia empregados, dos trabalhos mais humildes e discretos: varria, lavava, carregava água, amassava e enquanto a massa levedava ia à Igreja ouvir missa e fazer a Via-Sacra e ainda chegava a casa a tempo de se ocupar das mais variadas tarefas domésticas.
Tinha como director espiritual, um santo e douto varão, o Padre Manuel de Santiago.
Segundo a tradição tinha a jovem Custódia um rosto bonito e trigueiro, olhos claros como diamantes e afirma-se também que nunca perdeu a graça baptismal.
Aos 27 anos comunicou aos pais a sua decisão de se consagrar a Deus no Mosteiro da Conceição de Braga. A ninguém surpreendeu esta decisão, só os retraia o facto de Custódia «não sabia ler e que era muito simples», segundo expressão da sua 1ª biógrafa a Madre Maria Benta do Céu.
Tendo os pais dado o seu consentimento, Custódia apressou-se a dar a notícia ao seu irmão o Padre João de Couto e aos tios.
Puseram-se de acordo com o director espiritual da jovem, o Padre Manuel de Santiago, e a abadessa do Mosteiro da Conceição e, depois de tudo resolvido, entrou cheia de alegria e satisfação no claustro Concepcionista de Braga.
Noviciado e profissão monástica
Vestiu o hábito branco e azul, das monjas da Ordem da Imaculada Conceição fundada por Santa Beatriz da Silva, no dia 2 de Outubro de 1733, festa do anjo custódio e mudou o nome para soror Custódia Maria do Sacramento.
Apesar de não saber ler e da sua simplicidade, como diz a sua 1ª biógrafa, «ao fim de seis meses sabia ler latim tão correctamente e lia com desenvoltura as leituras no coro. Igualmente, sem saber música, juntava-se às cantoras e com elas cantava».
Professou no ano seguinte «com grande alegria sua e da comunidade».
No seu desejo de ser santa, fixava-se nas monjas mais observantes e esforçava-se por imitá-las, «pondo muito cuidado em que a sua virtude fosse mais interior que exterior».
A sua biógrafa madre Maria refere que foi sempre «muito sensata, humilde e modesta; de admirável simplicidade e de paz interior. Mas nem por isso era encolhida nem parada, mas tinha um ânimo muito vivaz e bem disposto».
Amava o silêncio interior e procurava estar continuamente em comunhão com Deus, esforçando-se por não perder a sua divina presença mesmo durante as tarefas quotidianas mais simples. Com frequência praticava os Exercícios de Santo Inácio. Dedicava-se à oração ainda com mais intensidade que antes de entrar para o Mosteiro. Dizia que tinha vindo para o claustro para se recolher e não para dissipada e distraída. Como São Bernardo queria fazer da sua cela o Céu, falando continuamente com Deus e com as pessoas só o necessário.
Amante da sã penitência como meio de purificar-se das sua faltas e de alcançar das alheias, usava prudentemente cilícios e disciplinas e outros meios, valorizando o que ensina São Paulo sobre o Homem Carnal e o Homem Espiritual.
Por amor à Virgem Imaculada jejuava com grande alegria todas as 6ª feiras e sábados, como manda a Regra que professava. Não perdia tempo, uma vez cumpridas as suas obrigações, o tempo que lhe sobrava empregava-o ao serviço das irmãs da sua comunidade, remendando os hábitos e outras peças de roupa ou trabalhando para os pobres. A sua paciência - diz a madre Maria - «foi heróica».
De toda esta rede de ocupações ordinárias se servia para elevar o espírito para Deus.
Enfermidade e morte
Sor Custódia Maria gozou de boa saúde nos seus primeiros anos de vida religiosa. Ao fim de cinco anos de permanência no Mosteiro, apareceram sintomas de grave doença pulmonar: sobreveio-lhe uma forte hemorragia oral. Aplicaram-lhe o remédio da sangria e outros que aconselhava a medicina daquele tempo, a doença abrandou e Sor Custódia pôde retomar o ritmo normal da sua comunidade.
Em 12 de Abril de 1739 recebeu a notícia da morte de sua mãe Catarina de Couto, que junta à da morte do seu pai, ano e meio antes, foi mais um sofrimento que se somou à cruz da doença.
As forças corporais da serva de Deus foram-se debilitando e a febre desgastava-a. Apesar do seu débil estado de saúde, seguia o horário da comunidade e levantava-se à mesma hora que as restantes monjas, ia para o coro, assistia à Missa e comungava, contudo não lhe era permitido levantar-se à meia-noite para rezar a Hora de Matinas. A doença ia-se agravando e ela purificando-se cada vez mais na cruz dos seus sofrimentos físicos.
A doente tinha consciência da gravidade da sua doença. No dia 20 de Junho de 1739 foi à Missa e comungou como de costume. À tarde, foi à horta e atirou para o poço os instrumentos de penitência que tinha usado. Não quis deixar indício algum dos seus actos penitenciais.
Na mesma tarde, entrou sozinha no refeitório, e uma irmã teve a curiosidade de a observar por uma fisga da porta, e viu que estava de joelhos diante de um Crucifixo que ali existia e nesta posição permaneceu por um bom espaço de tempo em íntimos colóquios com o Redentor.
Nesta mesma tarde, era sábado, havia na Igreja monástica Exposição Solene do Santíssimo Sacramento. Como pode, foi para o coro e esteve num canto do mesmo, em adoração, cerca de três horas.
No dia seguinte, Domingo, fez esforço para assistir à Missa e comungar. Segunda-feira pretendeu fazer o mesmo, mas a abadessa não lho permitiu e levaram-lhe à cela a Sagrada Comunhão que lhe serviu de Viático. Ela mesma pediu que lhe administrassem a Unção dos Enfermos. Pediu que lhe dessem um crucifixo, «para se despedir do seu Senhor». E abraçando-o com amor, entregou a sua alma placidamente ao Senhor no dia 22 de Junho de 1739, às sete e meia da manhã, com 33 anos de idade e seis de vida religiosa.
O toque dos sinos do Mosteiro da Conceição de Braga anunciou à povoação que a alma de sor Custódia Maria tinha voado ao encontro do Pai.
A ela se pode aplicar a sentença bíblica que diz, consumada a sua vida em curto espaço de tempo, deu frutos como se tivesse vivido muitos anos.
Fama de santidade
A notícia da morte voou rapidamente por toda a cidade. Por ser no dia seguinte a festa de São João Baptista, o cadáver retirou-se do coro, onde estava exposto e levaram-no para o ante-coro.
As pessoas acorreram ao Mosteiro em tão grande número, pedindo alguma recordação da serva de Deus, que foi preciso colocar algumas monjas na grade do locutório e na portaria, que se encarregaram de repartir pelos devotos pedacinhos do hábito e véu e objectos piedosos, que tinha usado. E nem assim foi possível contentar a todos.
À vista de tal afluência de fiéis, mandou o senhor Provisor que fosse enterrada no dia 24. Por conselho dos médicos, do Padre Matias e dos confessores da comunidade foi o corpo colocado numa caixa e sepultado na sala capitular.
Dá testemunho dos factos o médico Dr. Manuel Campelo de Miranda, assim como o Dr. Pedro Bossion, francês, que viu o corpo antes de ser sepultado e confirma o que diz o Dr. Miranda.
A fama de santidade de sor Custódia Maria do Sacramento estendeu-se com rapidez por toda a região. Muitos devotos acudiam a rezar junto do sepulcro.
A devoção e fama de santidade ia crescendo entre os fiéis e falava-se muito de graças e favores alcançados por intercessão da serva de Deus. A madre Maria Benta recorda até ao ano de 1764 cinquenta casos prodigiosos, dos quais, diz, dezanove estão autenticados.
Em vista das proporções que ia tomado a fama de santidade de sor Custódia Maria do Sacramento e dos favores que se dizia conseguidos por sua intercessão as monjas da Conceição de Braga trataram de dar início ao Processo de Beatificação.
(Cf. ENRIQUE GUTIERREZ, ofm, “Brillaran como estrellas…”, Ediciones Aldecoa, S.A., Burgos, 1981, pgs. 125 a 133)

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Beato Amadeu da Silva
reformador franciscano
e fundador da Congregação dos Amadeítas
irmão de Santa Beatriz da Silva
Memória Litúrgica: 10 de Agosto
João da Silva e Meneses, conhecido por Beato Amadeu da Silva (Beato Amadeu Hispano ou Beato Amadeu Lusitano), era filho de D. Rui Gomes da Silva, Alcaide-Mor da vila alentejana de Campo Maior e Ouguela e de Dona Isabel de Menezes, que era filha de D. Pedro de Menezes que foi Governador da Praça de Ceuta, nessa altura pertencente à coroa dos reis de Portugal. Os pais de João pertenciam à primeira nobreza do reino e estavam aparentados com a família real.
Foi o quinto de doze irmãos: Pedro, Fernando, Diogo, Afonso, Branca, Guiomar, Santa Beatriz (fundadora da Ordem da Imaculada Conceição ou Monjas Concepcionistas), Maria, Leonor, Catarina e Mécia.
Nasceu por volta de 1429, provavelmente em Campo Maior, onde os pais moravam nesta data.
Casou aos dezoito anos com uma donzela, com quem não chegou a coabitar. Pelos vinte anos, participou da Batalha de Alfarrobeira, em Maio de 1449, onde foi ferido. Foi depois para o Mosteiro de Stª Maria de Guadalupe, na Estremadura castelhana, onde ficou alguns anos, entre os monges da Ordem de São Jerónimo, ocupando-se do ofício de cozinheiro e de outros ofícios domésticos humildes. Chegou a dirigir-se ao reino de Granada, com o desejo de sofrer o martírio por Cristo. Foi perseguido pelos mouros granadinos, tentando depois seguir para África com um mercador que preparava a sua viagem. Mas regressou a Guadalupe. Ali, segundo os seus biógrafos, teve a tríplice aparição da Virgem Maria, de São Francisco e de Stº António, fazendo-o despertar para um nova vocação religiosa: a de franciscano.
Nas biografias populares, generalizou-se a fantasia da sua paixão pela infanta dona Leonor, a bela irmã do rei dom Afonso V, futura mulher do sacro imperador dos romanos, Frederico III da Alemanha, em cujo séquito teria chegado a Itália, depois de partir de Lisboa, por mar, no dia 11 de Novembro de 1451. Mas, pelo contrário, João de Meneses saiu do Mosteiro de Stª Maria de Guadalupe, com carta do prior Gonçalo de Illescas, passada em 11 de Dezembro de 1452, dirigindo-se a Assis. De passagem pelo Convento de São Francisco de Oviedo, ali recebeu o hábito franciscano. Passou por Avinhão, Génova e Florença. Os seus milagres foram conhecidos por toda a Itália, onde tomou o nome de frei Amadeu Hispano, numa referência bastante lata à Hispânia, a região ibérica da sua origem. Em Perusa, frei Ângelo, o ministro-geral da Ordem, negou-lhe audiência.
Em Assis, não foi recebido pelos frades, que julgaram o seu aspecto demasiado andrajoso, acusando-o de ser embusteiro. Viveu, então, aninhado a um canto dos muros do convento, dedicando-se à oração e à penitência. Sofreu perseguições por três anos, até à visita de frei Tiago Bussolini de Mozanica, novo ministro-geral, que o recebeu em profissão. A sua piedade e devoção configuraram a imagem de um santo vivo, que, apesar do desprezo dos seus, rapidamente granjeou muitos devotos, atraídos pelos seus inúmeros milagres. A sua fama chegou a uma sobrinha do papa Nicolau V, que foi uma dos miraculados. As peregrinações aos muros do Convento irritaram ainda mais os frades, que conspiraram para se livrarem de tal empecilho. Sofreu, então, muitas humilhações e dificuldades. Enviaram-no depois a Roma, ao papa Calisto III, sob influência de alguns frades que viviam na corte, de modo a obriga-lo a regressar à Península Ibérica.
Descobrindo que iria cair numa cilada, frei Amadeu Hispano pediu a protecção do ministro provincial, então em Perusa, alcançando letras comendatícias para o ministro-geral. Em Bréscia, este deu-lhe letras obediênciais para ir para o Convento de São Francisco da Porta Varcellina de Milão, situado na actual Praça de Santo Ambrósio. Acompanhou-o frei Jorge de Valcamonica, que se tornou seu confidente e que, posteriormente, testemunhou a sua santidade. Neste convento, os seus milagres e prodígios foram abundantes e, entre os numerosos devotos, contaram-se Francisco Sforza e sua mulher Branca Maria, duques de Milão. A duquesa confiou nas suas preces para várias necessidades, incluindo a concepção de um filho. Frei Amadeu mudou depois para um outro convento de Milão, buscando maior quietude, com a licença do Capitulo Geral, presidido pelo ministro-geral frei Tiago Bussolini de Mozanica, já no Pentecostes de 1457. Também o Convento de São Francisco de Mariano de Como não lhe deu a almejada paz, por causa da concorrência dos devotos.
Foi no Convento de São Francisco de Oreno que, desistindo da sua vocação eremítica, começou a dirigir-se às multidões e chegou a aceitar a ordenação sacerdotal. A sua primeira missa foi celebrada na festa da Anunciação, 25 de Março de 1459. Começou, assim, uma intensa actividade apostólica, recorrendo ao papa, escrevendo a príncipes, servindo de intermediário entre grandes magnatas. Recordou, quando necessário, o dever que a uns e a outros competia. Escreveu várias cartas, que hoje se conservam.
A 15 de Maio de 1452, teve uma audiência com o duque de Milão, ao que parece para pedir apoio para fundar um convento. Consta que a duquesa de Milão alcançara uma bula do papa Pio II para fundar um convento franciscano em Castiglione, na diocese de Cremona. Passaria a chamar-se Stª Maria de Castigliori (que mudou depois o titulo para Santa Maria de Guadalupe, por insistência de frei Amadeu, que era muito devoto de Nossa Senhora de Guadalupe). A duquesa conseguiu a doação deste convento a frei Amadeu, no ano seguinte. Este fez dele o centro da sua actividade de reforma da Ordem de São Francisco. Fundou mais conventos: São Bernardino de Erbusto e São Francisco de Iseo, na província de Bréscia, em 1465; Stª Maria da Paz de Milão, em 1466, também conhecido por Convento de São Tiago e São Filipe Apóstolos. Ao lançamento da primeira pedra esteve presente o arcebispo Galeazo Maria Sforza de Milão; o ministro-provincial dos franciscanos e outras pessoas importantes. Em 1467, fundou o Convento de Stª Maria da Fonte de Caravaggio. Em seguida, fundou o Convento de Santa Maria das Graças de Quinzano, com bula de 3 de Novembro de 1468. Depois, fundou o Convento de Stª Maria das Graças de Antignate, na província de Bérgamo, diocese de Cremona, em 1468. Por diligência do cardeal Francisco delle Rovere, futuro papa Sisto IV, obteve do papa Paulo II, a 22 de Abril de 1469, a graça de poder fundar na Lombardia três conventos com a invocação de Santa Maria, além do de Stª Maria das Graças de Quinzano. Assim, passou para a sua Custodia o Convento de Stª Maria Anunciada de Borno, província e diocese de Bréscia, pertencente aos terceiros franciscanos, o qual o papa Paulo II mandou entregar-lhe por bula de 1 de Agosto de 1469; e o de Stª Maria das Graças de São Secondo, na província e diocese de Parma.
Eleito papa com o nome de Sisto IV, o cardeal que o conhecera e que fora também ministro geral da Ordem de São Francisco, concedeu-lhe, a 24 de Março de 1472, entre outros privilégios, a faculdade de ele e os sucessores receberem na sua congregação frades conventuais ou quaisquer outros sob a jurisdição do ministro-geral, que desejassem segui-lo; e aceitar mais seis conventos, além dos que já possuía. O primeiro seria, ao que parece, o de Stª Maria da Paz de Castiglione, província de Alessandria e diocese de Cortona. Seguiram-se os de Lodi, chamado também de Stª Maria das Graças, na província de Milão; e o de Stª Maria das Graças de Cremona. A 18 de Junho de 1472, o papa concedeu-lhe o Mosteiro de São Pedro in Montório, onde, segundo a tradição, São Pedro fora martirizado. Os monges de São Clemente de Urbe, da Ordem de Santo Ambrósio, sob o pretexto de que o lugar estava sob a sua jurisdição, moveram-lhe uma causa. O pontífice defendeu frei Amadeu, confirmando a doação, a 8 de Março de 1481. A 20 de Junho de 1478, o papa Sisto IV concedeu a Raimundo Orsini e a sua mulher, senhores de grandes domínios na diocese de Sabina, faculdade para fundar nos seus territórios um convento para frei Amadeu e seus discípulos, em atenção aos moradores de Scandriglia, Monte Librete e Nerula e castelos de Ponticelli e Montório. O convento foi erguido nos arredores de Ponticelli, dedicado a Stª Maria das Graças e, em 1479, começou a vida comunitária. Passando por Piacenza, dirigindo-se a Lombardia, frei Amadeu recebeu também o Convento de São Bernardino, por doação do terceiro franciscano Tiago de Guarnis.
Na época em que viveu frei Amadeu, ainda não havia a separação entre franciscanos observantes e franciscanos conventuais. No entanto, estes últimos já viviam separadamente, obedecendo a vigários-gerais confirmados pelo ministro-geral da Ordem de São Francisco. Frei Amadeu dizia-se apenas da Ordem de São Francisco. Os papas referiam-no da Observância. A fundação da congregação de amadeitas dava-o como seu custódio, fora da sujeição ao vigário-geral. O papa Paulo II, ao conceder-lhe três conventos, concederia também que, após a sua morte, os seus discípulos pudessem eleger custódio. Isto é: frei Amadeu era, em vida, uma espécie de vigário provincial da Observância. Os frades observantes começaram então a mostrar desagrado para com os amadeitas, considerando desnecessária a cisão com a Observância. Colocariam em causa as virtudes de frei Amadeu, movendo-lhe grandes embargos, a começar pelo Convento de Stª Maria de Bressanoro, que tentaram arrebatar-lhe, fundamentando-se na bula de concessão, que referia a Observância. Frei Amadeu contou com a intervenção do cardeal de Bolonha, que conseguiu demover alguns cardeais defensores dos observantes. Atacaram de seguida o Convento de Stª Maria da Paz de Milão, que estava nas proximidades de um convento observante. Frei Amadeu teve de mover vários apoios políticos e religiosos, junto dos duques de Milão e na corte pontifícia, para impedir que lhe atrasassem ainda mais a construção do convento, que ainda decorria. A situação seria excessiva, ficando documentados os lamentos de frei Amadeu quanto às injúrias que recebia dos observantes. O papa Paulo II, em 1470, mandou suspender as obras, por causa da escandalosa discórdia entre os frades amadeitas e os frades observantes. A reacção dos amadeitas atingiu tal saturação que um deles chegou a gritar, do alto do púlpito, que o breve pontifício era falso. O problema, no fundo, seria que a congregação de conventos de frei Amadeu em tudo era semelhante à Observância, embora estando fora desta. Para resolver a questão, o próprio frei Amadeu conseguiria que o papa os declarasse sujeitos à obediência e jurisdição do ministro-geral e outros legítimos superiores da Ordem de São Francisco, segundo a Regra, em 23 de Maio de 1470.
Por esta época, fundou também a Confraria de Nª Srª da Paz, de São Sebastião, de São Roque e São Bernardino, destinada a clérigos e leigos nobres.
O papa Sisto IV, que cumulou frei Amadeu de privilégios, motivado pela admiração que lhe tinha, nomeadamente quanto à congregação dos seus conventos, nomeou-o seu confessor e secretário particular. Para o ter mais perto de si, doou-lhe o já referido Convento de São Pedro in Montório, junto do palácio apostólico, a 18 de Junho de 1472. Segundo frei Mariano de Florença, biógrafo de frei Amadeu, seria numa caverna deste convento que recebia revelações do arcanjo São Gabriel. Ali terá ditado o seu livro Apocalypsis Nova..., que entregaria, à hora da morte aos seus frades, devendo ficar à guarda do custódio. A obra teve uma grande divulgação anos depois. Vários problemas causados pelos observantes em relação a alguns dos seus conventos levaram a uma batalha final, envolvendo os duques de Milão e, por fim, o próprio papa, que protegeu os amadeitas.
Finalmente, frei Amadeu desejou fazer uma visita a todos os seus frades e, ao passar pelo Convento de Stª Maria da Paz de Milão, ali morreu, a 10 de Agosto de 1482. O rei Luís XI de França, a quem chegara a fama do Beato Amadeu, contribuiu para as despesas do funeral e para um sepulcro de mármore rodeado por grades.
Sucederam-se quatro séculos de culto ininterrupto, em torno da sua imagem nimbada, sobre a sepultura. Esta estava numa capela própria, onde eram colocadas muitas lamparinas e velas, celebrando-se ali todos os anos a festa do Beato, a 10 de Agosto. A sepultura já não existe, pois foi destruída durante as Invasões Francesas, embora se saiba onde estava situada. A sua canonização chegou a ser tentada, segundo alguma documentação do final do século XVI. (cfr. DOMINGUES DE SOUSA COSTA, 1989,ob. cit., pág. 241) A congregação dos amadeitas prosseguiu na Lombardia, no resto de Itália e em Espanha. Porém, a pressão dos ministros e dos Capítulos Gerais dos franciscanos, apoiados pelos problemas de alguns dos conventos, concorreram para que São Carlos Borromeu, cardeal protector dos amadeitas, impusesse o fim. Os trinta e nove conventos então existentes foram integrados na Ordem de São Francisco da Observância em 1568, por bula do papa Pio V.
(Veja-se DOMINGUES DE SOUSA COSTA, 1989, ob. cit. Vejam-se também: SEVESI, Paolo M., 1911, «B. Amadeo Menez de Sylva dei Fratri Minori. Fondatore degli Amadeiti (Vita Inedita di Fra Mariano da Firenze e Documenti Inediti», estratto da Luce e Amore, ano VIII, fasc. Nº 10, 11 e 12, Florença, Tipografia Domenicana; GALLI, Benedetto, 1923, Il B. Amedeo Menez di Silva. Frate Minore del SecoIo XV. Biografia PopoIare, Milão, Quaracchi - Tip. del Colegio S. Bonaventura; DOMINGUES DE SOUSA COSTA, 1985, ob. cit.; e DOMINGUES DE SOUSA COSTA, 196?, ob. cit.) cf. Dr. José Félix da Silva

sábado, 9 de agosto de 2008

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Festa da
TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
(6 de Agosto)

Transfiguraste-Te no monte,
Ó Cristo Deus,
mostrando aos teus discípulos
a Tua glória,
naquilo que a eles
era possível compreender.
Faz resplandecer
também sobre nós pecadores
a Tua Luz eterna,
pela oração da Mãe de Deus;
Ó dador de Luz, glória a Ti!
Sob o monte transfiguraste-Te
e os Teus discípulos,
na medida em que o podiam,
viram a Tua glória, Ó Cristo nosso Deus;
afim que quando te vissem crucificado,
compreendessem que a Tua paixão era voluntária
e anunciassem ao mundo
que Tu És verdadeiramente o Esplendor do Pai.
Na luz da glória do Teu Rosto, Ó Senhor,
caminharemos “in eterno”.

(Liturgia ortodoxa, Tropario e Kontakion)