sexta-feira, 18 de junho de 2010

O monge e a separação do mundo (1)
“Jesus subiu depois a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele” (Mc 3, 13),
“Ao romper do dia, saiu e retirou-se para um lugar solitário”
(Lc 4, 42),
“…subiu a um monte para orar na solidão” (Mt 14, 23)
e “Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco” (Mc 6, 31).
No coração do Deserto - a que somos chamados -, lugar de prova e de purificação da fé, o Pai conduz o monge por um caminho de total despojamento que se opõe a qualquer lógica do possuir, do sucesso e da felicidade ilusória. Este despojar-se requer uma ruptura radical com o mundo, que não é desprezo pelo mundo, mas uma orientação tomada para toda a existência numa busca assídua do Supremo Bem, de Deus: "Vós me seduzistes, Senhor, e eu me deixei seduzir" (Jr 20, 7) [cf. João Paulo II aos Cartuxos, 3 (14 de Maio de 2001)].
Os que não antepõem nada ao amor de Cristo (cf. Regra de São Bento, 4) alheiam-se e distanciam-se da conduta do mundo. Isto exige, segundo a tradição monástica, um certo grau de separação física: “Também o viver num lugar separado ajuda a alma a não dispersar-se. É nocivo, de facto, viver no meio daqueles que não têm temor, pelo contrário mostram desprezo diante da perfeita observância dos mandamentos. Demonstra-o aquela palavra de Salomão que nos ensina: "Não faças amizade com um homem colérico, nem vás a casa do violento, para não te habituares aos seus costumes e armares um laço contra a tua vida" (Pr 22, 24-25) e aquela palavra "Por isso, saí do meio dessa gente e afastai-vos, diz o Senhor. Não toqueis no que é impuro e Eu vos acolherei" (2Cor 6, 17) refere-se à mesma coisa. Para não ser levados a pecar (…) e para evitar habituarmo-nos ao pecado sem nos darmos conta, e para que não fique impresso na alma, para seu dano e ruína, a forma e a marca das coisas vistas e ouvidas, para que seja possível perseverar na oração, retiramo-nos antes de tudo para uma casa separada. Talvez assim possamos vencer os hábitos precedentes, com os quais tenhamos vivido alheios aos mandamentos de Cristo.” (BASILIO DI CESAREA, "Le Regole", Edizioni QiQajon/Comunità di Bose, Magnano, 1993, pgs.96/97). Assim, a localização e a estrutura do mosteiro deve garantir totalmente a quietude e a solidão dos seus moradores.
Deve zelar o abade/abadessa do mosteiro, bem como cada monge, para que nada nem ninguém altere ou viole esta santa atitude, fundamental à realização da vocação monástica.

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