segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020


Mensagem Quaresmal 2020
Sedentos de Esperança a caminho da Páscoa
1 – A Quaresma é um tempo privilegiado de conversão, pela escuta da Palavra de Deus e pelo acolhimento de catequeses mais aprofundadas, que nos recordam os grandes temas baptismais, preparando-nos de modo renovado e consciente para a vivência da Páscoa.
Este percurso exige de nós combate espiritual para crescermos nas virtudes cristãs da fé, da esperança e da caridade, e para renunciarmos ao pecado. Pede-nos igualmente um jejum medicinal, que nos fortaleça na nossa liberdade interior para dizer “Sim” e “Não” e, ao mesmo tempo, um jejum caritativo, ou seja, que leve à partilha de nós mesmos, do nosso tempo e dos nossos bens, com quem tem necessidades materiais ou da nossa presença.
Baptizados na morte e ressurreição de Cristo, somos chamados a viver segundo os critérios do Homem Novo, não seguindo meras propostas ideológicas nem uma moral abstrata, mas o testemunho de vida de Cristo, na sua obediência filial ao Pai. No tempo da Quaresma, o Povo de Deus é convidado a empreender um esforço exigente e libertador, abrindo-o ao chamamento do Senhor e da Comunidade cristã.
Privando-se pelo jejum e pela abstinência do alimento terreno, o povo santo de Deus, aprenderá a valorizar e a saborear, acima de tudo, o Pão da Palavra de Deus e da Eucaristia e os apelos vindos dos sinais dos tempos e da caridade que nos leva ao dever de partilhar os bens com os outros, como nos exorta o II Concílio do Vaticano, na sua Constituição sobre a Sagrada Liturgia, nº 110 «A penitência quaresmal deve ser também externa e social, e não só interna e individual». Por isso, orar e celebrar a Eucaristia no Tempo Quaresmal significa «percorrer, juntamente com Cristo, o itinerário da provação que pertence à Igreja e a cada ser humano; assumir mais decididamente a obediência filial ao Pai e o dom de si aos irmãos que constituem o sacrifício espiritual». Assim, renovando com o Espírito Santo os compromissos do nosso Baptismo, na noite pascal poderemos “fazer a passagem”, a Páscoa, para a vida nova de Jesus, o Senhor ressuscitado, para a glória do Pai, na unidade do Espírito.
2 – A Quaresma é por nós vivida, sob o desafio de respondermos aos apelos do Senhor dirigidos a esta Arquidiocese de Évora, edificando em nós o testemunho de vida como “Discípulos missionários da Esperança”, de modo a construirmos comunidades empenhadas em “Procurar e acolher os sedentos da esperança”.
Eis a Palavra de Jesus que nos guia no amadurecimento espiritual e crescimento pastoral: «Vinde a Mim todos vós que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei» (Mt 11, 28). Nesta perícope, Jesus põe em destaque como os mistérios do Reino, que os fariseus rejeitaram, são na verdade revelados por Ele, Filho de Deus, aos pequeninos, isto é, àqueles que os aceitam com simplicidade. Estes são os discípulos, os pobres de espírito, os fatigados e oprimidos, pelo fardo da lei e das observâncias farisaicas.
Jesus chama-os à liberdade, a uma incondicional adesão a Ele, que é o único a tornar tudo leve, pois mostra-se humilde diante de Deus e suave para com os homens.
Eis os discípulos missionários da Esperança, os que procuram e acolhem!
Os pobres, os sofredores, os marginalizados, os pequenos, os desconfiados da possibilidade do Amor, são bem-aventurados, porque encontrarão conforto e alento n’Aquele que para eles é o enviado do Pai e com eles se fez, a Ele mesmo, um deles.
Para todos nós, este é tempo de graça, pois a Quaresma é tempo favorável, Kairós de Deus! Por isso, também para nós, o Hoje de Deus nos convida a tornarmo-nos pequenos e humildes, percorrendo os caminhos da metanoia, da conversão, indo até Àquele que nos quer salvar.
O modo sincero, autêntico e coerente de actuação na caridade solidária e fraterna para com o próximo é sair da neutralidade passiva, omissa, indiferente e alheada, e comprometermo-nos em favor de todos os sós, pobres, sofredores e abandonados; no dizer do nosso querido Papa Francisco, comprometermo-nos com as periferias sociais e existenciais da Humanidade. Afinal, fazermo-nos presentes com toda a verdade das nossas vidas. É na busca desta radicalidade de verdade que o Papa nos dirige a sua mensagem para esta Quaresma, intitulada «Em nome de Cristo, suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20)
3 – A Quaresma propõe-nos acções concretas que testemunhem ao mundo a nossa vontade de conversão e tornem credíveis as nossas decisões de fraterna partilha, por isso, como nos anos anteriores, propomo-nos a realizar uma Renúncia Quaresmal que dedicamos a quem nos parece necessitado do sinal da nossa presença enquanto Igreja Diocesana.
No pretérito Ano Pastoral 2018-2019, enviámos a nossa Renúncia Quaresmal às Igrejas da Venezuela e de Moçambique (diocese da Beira), devido às terríveis provações com se debateram e ainda se debatem.
Agradeço a toda a Arquidiocese a oferta de vinte cinco mil euros que prontamente fizemos chegar à Cáritas Nacional para esta lhes enviar.
Neste primeiro Ano Pastoral, de um triénio dedicado à Esperança, lembro que os Consagrados estão sempre a caminho em busca do que Deus quer deles e do que os fiéis lhes pedem, por isso, o Santo Padre insiste constantemente na profecia, como elemento indispensável da vida consagrada; o «louvor que dá alegria ao povo de Deus, visão profética que revela o que canta e reza». Assim, a Vida consagrada é chamada a manter acesa a lâmpada do profetismo, tornando-se um farol para quantos estão desorientados no alto mar, uma tocha para aqueles que caminham na escuridão, uma sentinela para aqueles que não veem uma saída na vida. No coração dos Consagrados o convite do Papa Francisco deve ressoar bem alto: «Despertai o mundo! Sede testemunho de uma maneira diferente de fazer, de agir e de viver. Na Igreja, os religiosos são chamados a ser profetas, a dar testemunho de como Jesus viveu nesta terra e a proclamar como o Reino de Deus estará na sua perfeição».
Neste Ano Pastoral, convido toda a Arquidiocese a dedicar a sua Renúncia Quaresmal às duas comunidades Contemplativas Femininas presentes na nossa Arquidiocese: a Ordem da Imaculada Conceição (Monjas Concepcionistas) do Mosteiro da Imaculada Conceição em Campo Maior e a Família Monástica de Belém da Assunção da Virgem e de S. Bruno, estas ainda com o seu Mosteiro em construção na paróquia de Santo António do Couço.
Renovo a gratidão da Igreja em Évora, à Cáritas Arquidiocesana pela coordenação desta campanha nos anos anteriores, e volto a confiar-lhe esta tarefa de dinamizar e coordenar a recolha das Renúncias nesta Quaresma.
Santa e Fecunda Quaresma para todos!
Évora, 
memória litúrgica dos Santos Pastorinhos de Fátima 
e centenário da morte de Santa Jacinta Marto,
20 de fevereiro de 2020
+  Francisco José Senra Coelho, Arcebispo de Évora

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