sexta-feira, 3 de junho de 2011

«Queridas Irmãs,
dirijo a cada uma de vós as palavras do salmo 124 (125): “Enche de bens, Senhor, aos bons e aos rectos de coração” (v. 4.) Saúdo-vos sobretudo com este augúrio: esteja sobre vós a bondade do Senhor.
A Oração Litúrgica, como claustrais, marca os ritmos dos vossos dias e torna-vos intérpretes da Igreja-Esposa, que se une de forma especial, com o seu Senhor.
Ordenada a esta oração coral, que encontra o seu cume na participação quotidiana no Sacrifício Eucarístico, a vossa consagração ao Senhor no silêncio e no ocultamento torna-se fecunda e cheia de frutos, não apenas em ordem ao caminho de santificação e purificação, mas também em relação a esse apostolado de intercessão que fazeis por toda a Igreja, para que possa aparecer pura e santa na presença do Senhor. Vós que conheceis bem a eficácia da oração, experimentais em cada dia quantas graças de santificação esta pode obter na Igreja.
Queridas Irmãs, a comunidade [contemplativa] que formais é um lugar em que o Senhor pode morar; esta é para vós a Nova Jerusalém, para a que sobem as tribos do Senhor para louvar o nome do Senhor (cfr Sl 121,4). Sede agradecidas à divina Providência pelo dom sublime e gratuito da vocação monástica, à que o Senhor vos chamou sem mérito algum da vossa parte. Com Isaías podeis afirmar “o Senhor me plasmou desde o seio materno” (Is 49,5). Antes ainda que vós nascêsseis, o Senhor tinha reservado para Si o vosso coração para o poder encher do seu amor. Através do sacramento do Baptismo recebestes em vós a graça divina e, imersas na sua morte e ressurreição, fostes consagradas a Jesus, para lhe pertencer exclusivamente. A forma de vida que recebestes, na modalidade de clausura, coloca-vos, como membros vivos e vitais, no coração do corpo místico do Senhor, que é a Igreja; e como o coração faz circular o sangue e mantém com vida o corpo inteiro, assim a vossa existência escondida com Cristo, entretecida de trabalho e de oração, contribui para sustentar a Igreja, instrumento de salvação para cada homem que o Senhor redimiu com o seu Sangue.
É a esta fonte inesgotável a que vos aproximais com a oração, apresentando na presença do Altíssimo as necessidades espirituais e materiais de tantos irmãos em dificuldade, a vida sem sentido de quantos se afastam do Senhor. Como não ter compaixão por aqueles que parecem andar perdidos sem meta? Como não desejar que na sua vida aconteça o encontro com Jesus, o único que dá sentido à existência? O santo desejo de que o reino de Deus se instaure no coração de cada homem, identifica-se com a própria oração, como nos ensina Santo Agostinho: Ipsum desiderium tuum, oratio tua est; et si continuum desiderium, continua oratio (cfr Ep. 130, 18-20) [O próprio desejo de ti é oração tua; e se o desejo continua, continua a oração]; por isso como fogo que arde e nunca se apaga, o coração permanece de pé, não deixa nunca de desejar e eleva sempre a Deus o hino de louvor.
Reconhecei por isso, queridas Irmãs, que em tudo o que fazeis, mais além dos momentos pessoais de oração, o vosso coração continua a ser guiado pelo desejo de amar a Deus. Com o bispo de Hipona, reconhecei que foi o Senhor que pôs nos vossos corações o seu amor, desejo que dilata o coração, até torná-lo capaz de acolher o próprio Deus (cfr In O. Ev. tr.40, 10). É este o horizonte da peregrinação terrena! Esta é a vossa meta! Por isto escolhestes viver no ocultamento e na renúncia aos bens terrenos: para desejar acima de tudo esse bem sem igual, essa pérola que merece a renuncia a qualquer outro bem para possuí-la.
Que possais dizer todos os dias o vosso “sim” aos desígnios de Deus, com a mesma humildade com que a Virgem Santa disse o seu “sim”. Ela que no silêncio acolheu a Palavra de Deus, vos guie na vossa consagração virginal, para que possais experimentar no ocultamento a profunda intimidade vivida por Ela com Jesus.»
Benedictus XVI
Visita ao Mosteiro Dominicano de Santa Maria do Rosário,
da Homilia na celebração da Hora intermédia,
24 de Junho de 2010

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