sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Entrevista a Madre Maria Teresa dos Anjos, Abadessa do Mosteiro da Imaculada Conceição de Campo Maior.
Apesar dos cinco séculos de história,
esta forma de vida mantém-se
jovem, vigorosa e fecunda”

A Ordem da Imaculada Conceição comemora em 2011 os 500 anos de aprovação da sua Regra. A Ordem, fundada por Santa Beatriz da Silva, foi aprovada pelo papa Júlio II, por meio da bula Ad statum Prosperum, de 17 de Setembro de 1511. Actualmente, a Ordem conta com 148 Mosteiros. A maioria deles, 74, encontra-se em Espanha; dois em Portugal, dois na Índia e um na Bélgica. Os restantes distribuem-se por diversos países da América latina. Em plena Solenidade da Imaculada Conceição entrevistámos a Abadessa do Mosteiro de Campo Maior, Madre Maria Teresa dos Anjos que nos manifestou a alegria que representa para a Ordem esta data data jubilar. “São cinco séculos cheios de história, de generosidade, de oração perene, de sentir o Divino e o humano nas mãos para entregá-lo ao Senhor e para dá-lo aos homens, nossos irmãos”, confessa.
“a defesa” - Já entrámos no ano jubilar que comemora os 500 anos de aprovação da Regra da Ordem da Imaculada Conceição (1.9.2011). O que representa para a Comunidade Concepcionista de Campo Maior celebrar esta data?
Madre Maria Teresa dos Anjos - Esta data representa para a Comunidade uma exclamação jubilosa de acção de graças ao Altíssimo pelo carisma concedido à Igreja, inspirado e plantado, pelo Espírito Santo, no coração de Santa Beatriz. Cantamos com Maria o “Magníficat” pela fidelidade de uma multidão de monjas que, ao longo de cinco séculos, mantiveram viva esta forma de vida. São cinco séculos cheios de história, de generosidade, de oração perene, de sentir o Divino e o humano nas mãos para entregá-lo ao Senhor e para dá-lo aos homens, nossos irmãos. Neste percurso de 500 anos, este caminho de radicalidade evangélica, produziu muitos frutos de santidade, são várias as monjas Concepcionistas a caminho dos altares: mártires, místicas, silenciosas, apagadas, humildes, seguindo no seu recolhimento os passos dos nossos dois fortes pilares: Cristo Redentor e a Mãe Santíssima, na sua Imaculada Conceição. Apesar dos cinco séculos de história, esta forma de vida mantém-se jovem, vigorosa e fecunda, com recentes fundações de novos mosteiros na Índia e em vários países da América Latina.
“a defesa” - Que eventos estão já previstos para celebrar a data?
M.T.A. - O programa definitivo será lançado brevemente, podemos vê-lo no site http://www.oic500anos.com. Sabemos que haverá um Congresso Internacional celebrativo nos dias 14, 15, e 16 de Outubro, próximo, em Fátima. Não podemos concretizar mais, ainda que prevendo algum evento especial, em Évora e em Campo Maior, como terra natal da nossa Santa.
“a defesa” - Recentemente, o Vaticano confirmou que o nascimento de Santa Beatriz da Silva foi em Campo Maior. Como receberam esta notícia?
M.T.A. - Com muita alegria, foi uma grande surpresa para toda a comunidade, quando recebemos o documento através do Senhor Arcebispo.
Agradecemos de todo o coração o seu grande interesse, empenho e dedicação que sente, e manifesta de tantas formas, por esta insigne alentejana filha da Arquidiocese Eborense e pela nossa comunidade. Foi um dia de acção de graças que começou logo de manhãzinha, no Louvor Matutino e se prolongou ao longo de todo o dia das mais variadas formas.
Foi um dia de festa, de muita festa. Um sonho que há muito tempo ansiávamos conseguir. A verdade é que pressentíamos que chegaria o dia em que tudo se esclareceria. As suas primeiras companheiras deixaram-nos bem claro que “O que se sabe é que esta senhora nasceu em Campo Maior”. Ninguém melhor que a suas filhas e companheiras da primeira hora nos podiam dar a certeza do lugar do seu nascimento.
É significativo, pensar, como no ano de 1942, um grupo de dez Irmãs espanholas, deixam a sua pátria, o sossego do seu Mosteiro, e seguem a estrela luminosa de Beatriz que as conduz até ao lugar do seu nascimento. Um outro episódio significativo é o pedido que Santa Beatriz faz a uma simples senhora que vivia na casa de Santa Beatriz (assim denominada pelo povo), de que comunicasse ao Pároco, que fosse a Toledo, conhecesse a Ordem da Imaculada Conceição, fizessem uma imagem, e lhe dessem culto. Isto foi cumprido até os nossos dias. Santa Beatriz vela pela sua pátria e pela sua terra. Ela é nossa!
“a defesa” - Actualmente, como é composta a Comunidade Concepcionista de Campo Maior?
M.T.A. - Neste momento a Comunidade é composta por 14 Irmãs entre os 25 e 82 anos, vindas dos vários pontos do país e da vizinha Espanha. Todas nos esforçamos, procurando formar um só corpo e uma só alma, ainda que também como humanas, sintamos as debilidades de todo o ser terreno.
“a defesa” - Nos últimos anos a Comunidade de Campo Maior sofreu uma revitalização com a entrada de várias jovens. É uma Comunidade com futuro?
M.T.A. - Sim. Pela graça do Altíssimo, a Comunidade nestes últimos anos, está a aumentar com novas vocações. Temos um grupo de cinco jovens entre os 25 e 33 anos. Podemos dizer que são jovens muito entregadas pela causa do Reino, deixaram tudo quanto possuíam para possuir “o Todo”, e a partir deste ocultamento silencioso, entregar ao Senhor as suas vidas, as canseiras, sofrimentos, e angústias de toda a humanidade.
Como filhas de Santa Beatriz, sentimo-nos chamadas a saciar a sede que Deus tem do amor da Humanidade, do “nosso” amor, por isso Lhe votamos um amor generoso, voluntário, gozoso, exclusivo e total. Um amor por Deus que é total e radical, porque envolve o corpo, a carne, a inteligência, os afectos… em suma, uma vida que grita: “ para mim, viver é Cristo” (Fl 2, 21).
Pergunta-me se somos uma Comunidade com futuro. Bem, partimos de que o futuro está nas mãos de Deus, mas olhando neste momento para o nosso Mosteiro vê-se uma Comunidade viva, cheia de entusiasmo, de iniciativa, alegria, com desejos de transformar o mundo num oásis de paz e amor cristão.
“a defesa” - Em plena Novena e Solenidade da Imaculada Conceição, que mensagem gostaria de deixar aos cristãos da Arquidiocese de Évora?
M.T.A. - Aos cristãos da nossa Arquidiocese diria que temos uma grande graça e também uma grande responsabilidade. Por um lado, é uma bênção toda a devoção a Nossa Senhora da Conceição, que se bebe na Arquidiocese, com origem no Santuário de Vila Viçosa, que desde há muitos séculos alimenta o amor dos portugueses por Maria. Mas também é uma “gostosa” responsabilidade, pelo que só podemos ser agradecidos e temos que honrar com as nossas vidas o mistério da Virgem Imaculada.
Para quem quer seguir verdadeiramente Cristo hoje, Maria Imaculada aparece como uma luz no meio do caminho, um sinal de que é possível as maravilhas de Deus na vida de cada homem e mulher, se tivermos o coração aberto e disponível como ela. A Solenidade da Imaculada Conceição, no início do Advento, é uma chamada a prepararmo-nos para acolher Jesus como Senhor das nossas vidas.
Termino com a palavra de uma filha de Santa Beatriz, a Serva de Deus Madre Maria dos Anjos Sorazu: “Deus favorece algumas almas inspirando-lhes uma devoção singular, entusiasta e centrada na Santíssima Virgem. Estas almas, impulsionadas pela graça, consagram-se inteiramente à Senhora e identificam-se com ela mediante a prática da vida mariana, que consiste em inspirar-se para tudo na Virgem e fazer tudo em união com Ela. Deus revela à alma mariana a excelência da Virgem, os seus privilégios e as suas virtudes, com maravilhosa claridade e divinos efeitos. A alma sente-se chamada a copiar em si as virtudes da Senhora, os seus sentimentos e aspirações, tudo o que se vê e se sabe d’Ela. Aprende na Virgem a amar a virtude sobre todas as coisas e a aborrecer-se até com as imperfeições mais leves. Numa palavra, aprende a amar tudo o que é bom e adquire energias para o praticar.”

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